quinta-feira, outubro 13, 2005

O génio de Rossellini

É espantoso verificar que já pas- saram quase quarenta anos sobre o momento em que Roberto Rossellini (1906-1977) rodou A Tomada do Poder por Luís XIV (1966). De facto, revelando um admirável sentido visionário, o cineasta de Roma, Cidade Aberta (1945) investia, então, todos os seus esforços na... televisão.
É verdade: A Tomada do Poder por Luís XIV é um telefilme antes de haver telefilmes, feito a partir de uma crença absolutamente genuína e verdadeiramente didáctica nos poderes de formação que a televisão detinha e, segundo Rossellini, devia pôr em prática. Podemos discutir a sua própria formulação «utópica», e até algumas das suas consequências práticas. Em todo o caso, permanece a genialidade do seu gesto criativo. Não tenhamos dúvidas que ele seria o primeiro a ficar horrorizado com muitos «desvios» que, depois, a televisão sofreu, em particular favorecendo o tratamento académico e moralista das grandes referências históricas.
Por tudo isso, a passagem de A Tomada do Poder por Luís XIV na Cinemateca constitui uma magnífica oportunidade para revisitar o sentido de mise en scène de um dos pioneiros do cinema moderno europeu. Aliás, em boa verdade, estamos perante um trabalho de decomposição de outra forma de mise en scène: a da ascenção política e simbólica de Luís XIV que, na sequência da morte do Cardeal Mazarin, em 1661, vai elaborando as condições práticas e ideológicas da sua consagração como monarca absoluto e Rei Sol — em resumo: um grande objecto de cinema, aliás, de televisão.(*Cinemateca: sábado, dia 22, 21h30)
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Senses of Cinema: Rossellini
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