Desde a estreia em Cannes, Last Days / Último Dias tornou-se um objecto polémico. Evocando Kurt Cobain, líder dos Nirvana, e o seu fim trágico, o filme de Gus Van Sant chega, agora, às salas portuguesas.
J.L.: Não uma biografia, mas uma visão fragmentada e fragmentária — por assim dizer, cubista — da memória dispersa de Cobain. Gus Van Sant propõe um exercício cúmplice dos recentes Gerry (2002) e Elephant (2003). Ou seja: um labirinto de tema & variações que prolonga a vocação experimental do seu trabalho, ao mesmo tempo que o reaproxima de uma lógica jazzística, inerente às respectivas estruturas formais. É um filme de uma tristeza infinita que, no meio dos destroços, encontra os sinais de uma comovente ternura.
N.G.: Last Days não é um biopic de Kurt Cobain, mas se não conhecermos a vida do vocalista dos Nirvana não colhemos metade das referências sugeridas neste filme, um mergulho interior de Gus Van Sant pelas imagens e ideias que os últimos dias da vida do mítico cantor lhe sugeriram. Na verdade, Last Days é uma composição livre que parte do real (Cobain) mas edifica a partir dele uma ficção deslaçada, monótona e narrativamente vazia, ensopada em clichés roquenróle (o drogadinho, o incompreendidinho, o sozinho, o parasitadosinho pelos amiguinhos e coleguinhas, etc...). É lento, maçador, pasmado, inconsequente. Faz do músico uma cataplana de dores de alma, alienado, murmurante, cambaleante... Reduz potenciais debates sob a devastação pela fama e pela vida pessoal a um quadro de quedas no chão, palavras mal mastigadas. Não explica nem quer explicar. Não conta nem quer contar. Não dialoga nem quer dialogar. Se no genial Gerry, também de Van Sant, aceitávamos o dispositivo narrativo minimalista em favor de um devaneio sobre desnorte materializado em dois amigos perdidos no deserto, em Last Days o desnorte é de Van Sant. E a paciência... minimalista. Que me perdoem os admiradores de Cobain, mas passei o filme à espera que a bala, ou lá o que fosse, acabasse com o sofrimento. O meu, como espectador.
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J.L.: Não uma biografia, mas uma visão fragmentada e fragmentária — por assim dizer, cubista — da memória dispersa de Cobain. Gus Van Sant propõe um exercício cúmplice dos recentes Gerry (2002) e Elephant (2003). Ou seja: um labirinto de tema & variações que prolonga a vocação experimental do seu trabalho, ao mesmo tempo que o reaproxima de uma lógica jazzística, inerente às respectivas estruturas formais. É um filme de uma tristeza infinita que, no meio dos destroços, encontra os sinais de uma comovente ternura.
N.G.: Last Days não é um biopic de Kurt Cobain, mas se não conhecermos a vida do vocalista dos Nirvana não colhemos metade das referências sugeridas neste filme, um mergulho interior de Gus Van Sant pelas imagens e ideias que os últimos dias da vida do mítico cantor lhe sugeriram. Na verdade, Last Days é uma composição livre que parte do real (Cobain) mas edifica a partir dele uma ficção deslaçada, monótona e narrativamente vazia, ensopada em clichés roquenróle (o drogadinho, o incompreendidinho, o sozinho, o parasitadosinho pelos amiguinhos e coleguinhas, etc...). É lento, maçador, pasmado, inconsequente. Faz do músico uma cataplana de dores de alma, alienado, murmurante, cambaleante... Reduz potenciais debates sob a devastação pela fama e pela vida pessoal a um quadro de quedas no chão, palavras mal mastigadas. Não explica nem quer explicar. Não conta nem quer contar. Não dialoga nem quer dialogar. Se no genial Gerry, também de Van Sant, aceitávamos o dispositivo narrativo minimalista em favor de um devaneio sobre desnorte materializado em dois amigos perdidos no deserto, em Last Days o desnorte é de Van Sant. E a paciência... minimalista. Que me perdoem os admiradores de Cobain, mas passei o filme à espera que a bala, ou lá o que fosse, acabasse com o sofrimento. O meu, como espectador.