domingo, outubro 30, 2005

Discos da Semana: 31 Outubro

The Rakes "Capture/Release"
N.G.: Com a nova geração brit dividida entre três frentes (a clonagem Coldplay, a reinvenção pós-punk e a candidatura à vaga deixada pelos Libertines), cada nova banda em cena perfila-se em sua família. Os The Rakes, londrinos, conciliam contudo o requinte melodista e a carteira de referências captada na herança pós-punk (são sobretudo evidentes marcas dos Gang Of Four e Wire) com um sentido de urgência e acção directa menos polida que os Libertines tomaram como bandeira (se bem que pareçam mais influenciados pelo aprumo despenteado de uns Strokes que pelo desgoverno básico de Barat e companhia). Como extra, doseiam na sua música uma evidente pulsão rítmica aprendida em noites de música de dança, estabelecendo aí potenciais pontes com os Bloc Party. Mas são diferentes, e na definição da sua identidade conta não só esta abertura de referências sonoras como uma personalidade urbana, jovem, socialmente consciente de si, do seu espaço e gentes, e que se traduz em palavras que podemos localizar entre o cinismo witty de uns Art Brut e o mais directo tom streetwise de um Mike Skinner. O disco, além de retratar uma Londres actual e atenta e ser musicalmente fruto deste tempo de redescoberta de um rock urgente ensopado em melodias pop, é também, e acima de tudo, uma colecção de belíssimas canções.

Mafdalda Arnauth "Diário"
N.G.: Depois de três magníficos álbuns na EMI (sobretudo os dois primeiros) e de um best of (um tanto precoce, mas que se entende por fechar um ciclo editorial), Mafalda Arnauth inicia uma segunda etapa com mais um álbum que procura vincar a sua forma de estar no fado: firme na sua identidade e tradições, segura na sua postura e voz, mas sem receio de olhar além do horizonte. Mais que apenas palco de uma certa luminosidade (que parece quase redutor lugar comum quando dela se fala), o álbum abre portas a novas ousadias, de um diálogo com sopros à Argentina de Mascio, ao Brasil de Jobim, à França de Aznavour... Não é ainda um La Lhorona, mas vai a caminho...

Fiery Furnaces "Rehearsing My Choir"
N.G.: Depois do visionário Blueberry Boat de 2004 e da soberba colecção de singles pop reunida este ano em EP, esperava-se com ansiedade o que de novo nos trariam os manos Friedberger, certo que seria surpresa... e, em princípio, suculenta. Pois a primeira das premissas encontra resposta em Rehearsing My Choir, ou seja, é surpeendente, leia-se diferente. Quanto ao resto... Dedicatória à avó, o álbum é uma tentativa falhada de construção de um conceito de música falada e contadora de histórias. Estruturas minimalistas, breves afloramentos rock escola de 70, e dose familiar de texturas electrónicas todo-o-terreno, servem memórias faladas, muito faladas mesmo, que começam por cativar a atenção, mas logo se revelam monótonas, musicalmente mal resolvidas, palco para uma boa ideia mal encenada. Uma desilusão.

Stevie Wonder "A Time To Love"
N.G.: É verdade que um primeiro single até entusiasmou. Mas, afinal, era como o recente Musicology de Prince. Um bom aperitivo, para uma refeição de pacote, cansada, fraca, incapaz de reinventar cenas do passado (aquele, remoto, de 70 e início de 80, em que Stevie Wonder nos deu grandes momentos de sabor soul e funk, de Innervisions a Hotter Than July). O lado baladeiro azeiteiro fácil de que I Just Called To Say I Love You é memória, torna-se fantasma que assombra parte do disco, e dele faz pasto apenas para consolo de quem quer fazer muito esforço para celebrar no presente quem justificou a nossa admiração no passado. Se a vaga de regresso em forma de veteranos (McCartney, Rolling Stones, Brian Eno) é regra, esta é a excepção!

Nirvana "Sliver: The Best of the Box"
N.G.: Mais uma dose? Na verdade nada mais aqui temos que uma selecção dos temas (entre sobras, maquetes, versões alternativas) agrupados na caixa With The Lights Out, em formato dieta. Juntam-se mais três inéditos - Spank Thru (da maquete Fecal Matter, de 1985), Sappy (gravação de estúdio de 1990) e Come As You Are (uma maquete gravada num ensaio antes de Nevermind) - e pronto, passem para cá mais 19 euros! E o que virá a seguir? Bocejos unplugged? O melhor das mensagens de Cobain nos atendedores de chamadas de sua casa? Sesões espítrita com Madame Polly? Deixem o homem em paz... Que estas gravações eram coisa de trabalho, caseira, e não pasto vampírico para ouvidos obsessivamente fanatizados e gestores de conta (editores, viúva, ex-colegas) avidamente esfomeados...

The National "Alligator"
N.G.: Chega finalmente a Portugal um dos mais elogiados discos de rock para gente crescidinha do ano. Apesar de naturais do Ohio, os The National vêm de Nova Iorque e este disco serve para mostrar mais provas da versatilidade estilística que percorre a actual capital cultural do mundo. Alligator é um sólido e belo disco conservador, um herdeiro de escolas indie rock, entre paisagens baladeiras de requinte literário e surtos rock que parecem vindos de uma garagem, todavia bem arrumada e sem anseios de revolução. Na linha de uns American Music Club ou de uns Tindersticks menos sombrios, um bom disco rock adulto, urbano, sóbrio e com gosto pela palavra.

Yello "Solid Pleasure" + "Claro Que Si" + "You Gotta Say Yes To Another Excess" + "Stella" + "One Second " + "Flag"
N.G.: Os seis primeiros álbuns dos Yello são reeditados em CD com som remasterizado e faixas extra. A série de reedições foca o catálogo editado entre 1980 e 1988, ou seja a etapa mais visionária, ousada, sempre excêntrica e sedutora da música do duo suíço. Nestes discos regista-se a fase em que criaram algumas das mais desafiantes composições pop definidas sobre ferramentas electrónicas do seu tempo, contando por vezes com colaboradores como Billy McKenzie (dos Associates) ou... Shirley Bassey! As edições são da Universal (ainda sem confirmação de eventual distribuição nacional).

Também esta semana: Clã (DVD), Blondie (best of), We Are Scientists (ediçãop local só em Fevereiro), Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Scout Niblett, Spoon (edição local), Gris Gris, Electraleane, Lisa Gerrard (banda Sonora), Limousine, El Presidente, Thumbsucker BSO, Vashti Bunyan, Luomo, Jim White (banda sonora), Erasure (DVD), Tôt Ou Tard (Duetos a celebrar 10 anos da editora)

Brevemente
7 Novembro: Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais e raridadaes), David Bowie (antologia em 3 CD), Beastie Boys (best of), DK7, Luomo (reedição), Gang Gang Dance, Duran Duran (DVD + CD ao vivo), God Is An Astronaut, Clientele, Rogue Wave, Giles Peterson (radio sessions)

14 Novembro: Moby (DVD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Framz Ferdinand (DVD), Nick Cave (banda sonora)

Novembro: Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Eurythmics (oito reedições + best of), Marianne Faithfull (DVD), Blondie (DVD), Kaiser Chiefs (DVD), Teresa Salgueiro, John Lennon (reedições), Queen (A Night At The Opera 30 anos), Pedro Abrunhosa (DVD), Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD), Rufus Wainwright (Want 1 + 2), The Mood Elevator, Sam Shinazzi Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast, Pharell Williams, Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD)

Sem data: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), Camané (DVD), Madredeus (DVD), Amália Rodrigues (3CD antologia), John Lydon (CD + DVD)

Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur, Sparks, Every Move A Picture, White Rose Movement


As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.

MAIL