Nine Horses “Snow Borne Sorrow”N.G.: Quinze anos depois dos Rain Tree Crow, David Sylvian volta a juntar uma banda, desta feita com o alemão Burnt Friedman e, inevitavelmente, o irmão e velho parceiro desde os dias dos Japan, Steve Jansen. O álbum contraria a lógica de improvisação e fuga às estruturas mais convencionais do anterior (e inconsequente) Blemish, e, firme num desejo em trabalhar o formato da canção, devolve-nos a territórios onde Sylvian é mestre. Snow Borne Sorrow, o seu melhor álbum desde 1987, herda pistas em registos históricos do cantor como Brilliant Trees (1984), Secrets Of The Beehive (1987) e Dead Bees On A Cake (1998), mas junta-lhes o requinte cenográfico de Friedman e frequentes pinceladas de travo jazzy, assim como pontuais elementos e detalhes cedidos por colaboradores como Stina Nordenstam (que lembra Ingrid Chavez) ou Arve Henriksen (que confere frequentemente às canções um melodismo onírico que evoca John Hassell). Uma mão cheia de temas, que vão da balada texturalmente rica em acontecimentos à canção ritmicamente bem arquitectada, servem de moldura a retratos comentados da vida americana no pós-11 de Setembro. No seu disco mais político de sempre, Sylvian induz reflexões como se de uma meditação se tratasse. Não para impor um panfleto. Mas, e ajudado por uma das mais cativantes vozes que a pop já conheceu, partilhar experiências e sensações. Um disco fundamental de 2005.
J.L.: Uma jóia de intimismo, uma quase música de câmara aqui e ali contaminada pelo impulso primitivo de um rock mais cru e agreste — para ouvir muitas vezes, como quem redescobre o que sempre esteve ao nosso lado.
Franz Ferdinand “You Could Have It So Much Better”
N.G.: Numa altura em que os ciclos discográficos se estendem por dois anos a dois anos e meio, os Franz Ferdinand optam por responder em pouco mais de 12 meses ao excelente álbum do ano passado, com um segundo disco no qual não podemos esperar a revolução. Pelo contrário, partem de uma ideia de continuidade para pontualmente indiciar rotas futuras, ora num registo mais ríspido e directo, ora em mais evidente flirt com a música de dança, ora assumindo mais que nunca a herança do melodismo clássisco brit de 60, escolas Kinks e Beatles. Um seguro e inteligente passo em frente, sólido no assumir das conquistas do primeiro disco, firme na exibição de sinais de mudança que o tempo acabará por definir em episódios futuros. E atenção que o álbum tem mais rebuçados que o genial Do You Wanna, canção usada como single-aperitivo e que é, garantidamente, o candidato a ser o Take Me Out de 2005.
Clã “Vivo”
N.G.: A melhor banda portuguesa em palco edita… um disco ao vivo. Justo documento da intensa etapa 2000-2004, retrata como o grupo enfrenta com intensidade o desafio live, mantendo firme o requinte da sua música. Lustro é protagonista num álbum que quase serve de “best of”, apresentando uma mão cheia de canções que fizeram os melhores momentos dos dez primeiros anos de vida do grupo. Com um inédito interessante, algumas versões e boas colaborações inesperadas de Maria João e Adolfo Luxúria Canibal, a definitiva prova de maioridade de uma das bandas mais representativas da actual pop que se faz entre nós.
Kronos Quartet “You Stole My Heart”
N.G. Mais uma viagem contra os cânones habituais em quartetos de cordas. Desta feita o mui ecléctico Kronos Quartet mergulha ao encontro da riquíssima música que cenografa o cinema de Bollywood (na Índia), homenageando o compositor Rahul Dev Burman, e contando com a ajuda da mítica cantora Asha Bhosle. Um bálsamo colorido e de travo exótico para os sentidos. Em duas palavras: pura delícia!
J.L.: O Kronos repete-nos incessantemente a mesma certeza: todas as fusões são possíveis. E importa acreditar. Lembram-se do que eles fizeram em Nuevo (2003), com os sons mexicanos? Agora, as músicas do cinema indiano surgem revisitadas e transfiguradas num processo que, paradoxalmente, sublinha as suas irredutíveis singularidades. Um álbum de pura felicidade eclética.
Andy Bell “Electric Blue”
N.G.: Com os Erasure pelas ruas da amargura, de tão maus que têm sido os últimos discos, o vocalista tenta uma escapadela a solo. Mete o pé na poça e faz um disco… à Erasure (facção recente, ou seja, mau). Apesar de pontualmente inspirado nos acessos electropop gourmet de Love Oneself (com Cláudia Brücken) e no tema título, não passa de um desfile de lugares comuns já gastos e onde o presente não parece querer entrar.
Murcof “Remembranza”
N.G.: Depois do excelente Martes e de um interessante conjunto de remisturas, o projecto do mexicano Fernando Corona fecha-se no template por si criado e acaba numa crise de claustrofobia com final infeliz. Despido do sentido paisagista que ecoava em Martes e dos cruzamentos entre géneros e jogos de colagens que então nos revelou, parece desta feita não querer mais que estudar texturas e mais texturas, na boa escola Brian Eno instrumental de finais de 90. Ou seja, chatinho…
The Fall “Fall Heads Roll”
N.G.: Apesar da longevidade, os Fall continuam a dar-nos bons discos. Não acreditam já em revoluções, mas ainda surpreendem quando, por exemplo, usam electrónicas lo-fi nas duas faixas de abertura de um disco que se revela depois mais dado a ensaios garage rock sobre os quais navega a voz (e maneirismos) de Mark E Smith. Inclui uma versão “garagificada” de I Can Hear The Grass Grow dos Move.
Dandy Warhols “Odditorium Or Warlors Of Mars"
N.G.: O horror! O horror! Depois do belíssimo Welcome To The Monkey House, como é possível um disco tão… mauzinho? O desnorte, que se notara no medíocre concerto do Sudoeste 2004 confirmou-se em disco. É pena…
John Lennon “Working Class Hero”
N.G.: Editada na semana que assinalaria, caso fosse vivo, o 65º aniversário de John Lennon (e, convenhamos, pensada também para marcar a evocação dos 25 anos da sua morte), esta é uma antologia de alinhamento correcto (e previsível). Um retrato em dois CDs, de uma obra a solo que convém sobretudo evocar ao som dos álbuns Plastic Ono Band e Imagine.
J.L.: Para ouvir (eventualmente para descobrir) sem nostalgias obrigatórias, para além das celebrações mediáticas — o trajecto fascinante de um verdadeiro bastião do rock.
New Order “Singles”
N.G.: Com tamanha legião de herdeiros em cena, um oportuno best of da extensa carreira dos New Order, de Ceremony aos singles mais recentes. Sem surpresas, um alinhamento digno de uma antologia. Todavia, mais uma… Não houve já que chegassem? E Susbtance ainda serve bem de retrato do que de melhor fizeram.
Também esta semana: Leftfield, Beta Band (best of), Tributo a Tim + Jeff Buckley, Go! Team (reedição), Steve Harley + Cockney Rebel, Siouxsie & The Bansheed (reedição do álbum de estreia), Mark Eitzel, Talking Heads (caixa com todos os albums), Bow Wow Wow (best of), Eurythmics (best of), Cream (DVD), Jesus Jones (DVD ao vivo), Pink Floyd (DVD documentário), Scott Walker (compilação), Vicious 5, Mylo (repackage com bónus), Big Star, Grandaddy (EP com edição nacional só no fim do mês), Neil Young
Brevemente
10 Outubro: Ladytron, Bruce Springsteen (DVD no VH1), Police (DVD ao vivo), John Lennon (duas reedições), Gang Of Four (regravações), Fiona Apple, Paul Weller, Killing Joke, Outkast, Yello (duas reedições), Prodigy (best of), El Presidente, New Order (dois DVDs, um de telediscos, outro com um documentário), Anja Garbarek, Mobius Band, New Pornographers, Arab Strap, Lambchop, Babyshambles, Chumbawamba, Why?, Young Gods (antologia)
17 Outubro: Depeche Mode, Kátia Guerreiro, Animal Collective, Soulwax (remisturas), Franz Ferdinand (DVD), John Lydon (antologia), Stevie Wonder, Boards Of Canada
Outubro: Duran Duran (DVD + CD ao vivo), Camané (DVD), David Fonseca, Clã (DVD), Blondie (best of), Madredeus (DVD), Louis XIV, We Are Scientists, Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Cardigans, Kraftwerk (DVD), DK7, Mafalda Arnauth, The National (edição local), Scout Niblett, Spoon (edição local), Gris Gris, Electraleane, Lisa Gerrard (banda Sonora), Limousine
Novembro: Da Weasel (ao vivo), GNR (tributo com bandas de hip hop), Moby (DVD), Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais), David Bowie (3CD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Eurythmics (oito reedições)
Dezembro: Teresa Salgueiro, John Lennon (DVD)
Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes
As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.