David Fonseca “Our Hearts Will Beat As One”
N.G.: A abertura, ao som de Who Are U?, agrada, mas engana. Parece estarmos em terreno de evidente continuidade. Uma balada bem desenhada, nocturna, dramatizada pela voz, dispensando a estrutura convencional da canção, mas remetendo-nos directamente para a herança dos Silence 4 e da estreia a solo de há dois anos, mesmo que sob regime mais exigente. A segunda canção não contraria a tendência. Mas é à terceira faixa que compreendemos que as duas primeiras não foram mais que o encerrar de um ciclo. Cold Heart é filigrana minimalista feita canção pop. E, pela sua frente, seguem-se alguns outros magníficos surtos de intensidade e fibra. Ainda parecendo tactear com cautela a definição do novo espaço, entre o dosear das baladas e o desejo em libertar energias, o álbum projecta uma nova dinâmica na música de David Fonseca, solta eventuais espartilhos e, sem romper com o seu passado, caminha em frente. É um disco de belíssimas canções, suportado por uma voz segura, arranjos que não afogam, e dominado pelo prazer da descoberta de um mundo novo. E, pela primeira vez, com um alinhamento contido no tempo: 11 canções! É o suficiente, convenhamos… A fechar, uma canção em português, na qual a novidade não é, necessariamente a língua (afinal, David Fonseca já o faz desde a estreia dos Silence 4 em 1998). A estrutura da canção é desafiante, e a adopção de discretas teclas, cruzadas com uma sugestão sinfonista e de uma estrutura rítmica mais intensa, progressiva, alimenta mais ainda o sabor a ousadia que, discreta, mas solidamente, faz deste disco o momento de afirmação do que o músico agora procura, como se fosse o primeiro dia do resto da sua vida… O melhor disco pop nascido entre nós este ano.
Gang Of Four “Return The Gift”
N.G.: Numa altura em que são evidentes fornecedores de matéria prima para a inspiração de tantas novas bandas britânicas, dos The Rakes aos Futureheads, ei-los que regressam. Para já, os Gang Of Four regravam alguns temas de uma obra marcante no cenário pós-punk britânico, algumas das quais colhidas na memória fundamental do seu álbum-chave, Entertainment! Um segundo CD oferece remisturas destas gravações por mãos amigas. E aqui, ao aceitar amigos (e estranhos) a bordo, não se pode sonhar com o impossível, balouçando este segundo CD entre as grandes ideias cedidas pelas intrervenções de uns Ladytron, Yeah Yeah Yeahs, Tony Kanal ou The Rakes, e as inconsequentes operações plásticas de uns Dandy Warhols (que andam mesmo desinspirados), The Others ou Amusement Parks On Fire. Mas vale pela descoberta de um nome fundamental de finais de 70, que a produção recente mostrou ter herança para dar e render.
Soulwax “Nite Versions”
N.G.: O interessante Any Second Now, do ano passado, representou uma importante contribuição para a contaminação do espaço da música feita para dançar por heranças rock’n’roll, afinal nada mais que aplicar à prática ideias cruzadas em discos pelos cabecilhas do projecto quando respondem à chamada como DJs, ou melhor 2 Many DJ’s. Agora, esses híbridos são revistos com clara tendência mais electrónica que eléctrica. Apenas interessante, ou seja, menos visionário que as formas originais, bem mais musculadas e capazes de convidar as pernas a mexer… Ou, por outras palavras, como reduzir a apenas uma dimensão uma ideia originalmente pensada em dois sentidos.
Louis XIV “The Best Little Things Are Kept”
N.G.: Nos anos 70, quando Ziggy era rei e Bolan a estrela, os americanos não digeriram bem o tempero camp do fenómeno glam rock e, não fosse a abordagem de cunho bem pessoal dos New York Dolls (mais em rota pré-punk que pop, mesmo assim), a coisa tinha sido completamente ignorada do lado de lá do Atlântico. Agora, mais de 30 anos depois, um tal Louix XIV (o nome não engana) apresenta um álbum de revisionismo glam que procura identidade entre a convocação do melodismo eléctrico de uns T-Rex e Bowie com escolas indie americanas de 90, e pontual surto de paixão beatlesca… Diferente, mas apenas… curioso.
Robbie Williams “Intensive Care”
N.G.: Depois de umas férias para repousar da globalização quase total da sua carreira (quase, já que os americanos não parecem querer ligar-lhe qualquer atenção), Robbie Williams encontrou novo parceiro em Stepyhen Duffy (Duran Duran, Lilac Time) e propõe um álbum que em nada parece mostrar as qualidades de compositor do seu novo parceiro. Mais dado a devaneios Dylanescos que ao apelo pop dos Duran Duran onde militou entre 1978 e 79 (antes da era Le Bon), Duffy parece aqui fora do seu lugar. E Robbie Williams também. Lá está o refrãozito fácil, a progressão orelhuda, e a eventual canção para se fazer à rádio. Mas, mesmo ensopado em truques de apelo maisntream, nem este é o álbum pop sólido que o cantor já deveria ter gravado a bem da evolução e maturação da sua carreira (seguindo o modelo George Michael em Listen Without Prejudice), nem o disco de grandes canções que seria de esperar de Stephen Duffy. Dispensável.
Murcof “Remembranza”
N.G.: Depois do excelente Martes e de um interessante conjunto de remisturas, o projecto do mexicano Fernando Corona fecha-se no template por si criado e acaba numa crise de claustrofobia com final infeliz. Despido do sentido paisagista que ecoava em Martes e dos cruzamentos entre géneros (sobretudo entre escolas electrónicas e música contemporânea) e jogos de colagens que então nos revelou, parece desta feita não querer mais que estudar texturas e mais texturas, na boa escola Brian Eno instrumental de finais de 90. Ou seja, chatinho…
Também esta semana: Safety Scissors, Múm (reedição), Dirty Three, Deep Purple, Soulwax (remisturas), Her Space Holiday, Phil Manzanera, Bruce Springsteen (DVD), Prodigy (best of), Anja Garbarék, New Order (dois DVDs, um de telediscos, outro com um documentário), George Harrison (reedição de Concert For Bangladesh), Coloma, Pixies (DVD), Flaming Lips (DVD)
Brevemente:
31 Outubro: Clã (DVD), Blondie (best of), We Are Scientists, Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Mafalda Arnauth, The National (edição local), Scout Niblett, Spoon (edição local), Gris Gris, Electraleane, Lisa Gerrard (banda Sonora), Limousine, El Presidente, Thumbsucker BSO, Vashti Bunyan, Luomo, The Rakes (edição local), Jim White, Nirvana (antologia), Stevie Wonder, Yello (reedições), John Lydon (antologia), Fierey Furnaces, Stevie Wonder, Erasure (DVD),
7 Novembro: Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais e raridadaes), David Bowie (antologia em 3 CD), Beastie Boys (best of), DK7, Luomo (reedição), Gang Gang Dance
Novembro: Moby (DVD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Eurythmics (oito reedições + best of), Duran Duran (DVD + CD ao vivo), Marianne Faithfull (DVD), Blondie (DVD), Kaiser Chiefs (DVD), Teresa Salgueiro, Franz Ferdinand (DVD), John Lennon (reedições), Queen (A Night At The Opera 30 anos), Pedro Abrunhosa (DVD), Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD) Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast, Pharell Williams, Amália Rodrigues (3CD antologia), Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD)
Sem data: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), Camané (DVD), Madredeus (DVD)
Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur
As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.