Animal Collective “Feels”
N.G.: O melhor álbum dos Animal Collective e, sem dúvida, um dos mais entusiasmantes discos de 2005. O colectivo volta a responder pela presença activa dos seus quatro elementos e opta pela construção de canções espantosamente estruturadas e ricas em fontes de som, nas quais um sentido mais evidente de forma não significa o abdicar do seu habitual desejo de liberdade formal. Pequenos elementos, detalhes muitos, subtilezas melódicas e de espaço contribuem para a construção de cenários sobre os quais se desenvolvem belíssimas composições, desde o apelo pop do genial Grass ao devaneio contemplativo de Banshee Beat. O álbum arruma definitivamente quaisquer intenções taxonómicas, partilhando heranças de géneros e atitudes musicais, procurando antes o prazer da descoberta de formas pessoais de visitar alguns terrenos já comprovados como férteis na história da música popular. Apesar de não parecer haver nos Animal Collective um projecto cósmico que os faça evoluir num sentido determinado, partindo do caos e espreitando agora, mais que nunca, a forma concreta, o certo é que os discos que têm sucessivamente editado lhes permitiu primeiro experimentar texturas e ambientes, e agora, sim, usar os dotes plásticos em favor de um mergulho na mais basilar das estruturas da música popular: a canção. Sem dúvida, um dos discos pelos quais 2005 vai ser recordado.
Depeche Mode “Playing The Angel”
N.G.: Desde Songs Of Faith And Devotion (1993) não víamos uns Depeche Mode tão viçosos, tão firmes no desejo de ser consequentes, de projectar verdadeiras ânsias em forma de canção. É certo que não foi pacífica a entrada em cena de Dave Gahan como autor (assinando três belos temas, bem melhores que os que gravou no seu medíocre disco a solo). Mas como há muito não se via, este é um disco que mostra o grupo firme numa linguagem pop electrónica densa e sombria, cantando como sempre histórias de dor e redenção, mas desejoso de as marcar na carne dos seus espectadores. Não há por aqui singles luminosos ao jeito de Enjoy The Silence, mas este é um disco com o apelo versátil do histórico Violator (1990), todavia com a carga opressiva do ainda mais antigo Black Celebration (1986). Inesperada manifestação de vitalidade aos 25 anos de vida pública!
Katia Guerreiro: “Tudo Ou Nada”
N.G.: “Que seria da música portuguesa em 2005 se não fosse o fado? Ou, antes, os magníficos discos de fado que temos escutado e quase fazem esquecer o ano medíocre que a nossa pop e rock nos têm dado... Primeiro Cristina Branco, depois Mariza e Mísia. Agora, Katia Guerreiro. Ao terceiro álbum confirma em pleno a maioridade de uma voz que já dava sinais de encanto no passado mas que nunca, como agora, havia encontrado o repertório e tempo ideal para se afirmar definitivamente como uma das melhores vozes da “nova geração”. A tudo isto, Tudo Ou Nada junta traços inteligentes de ousadia que sugerem olhares de reinvenção e futuro, e, sobretudo, de conquista de uma personalidade artística. Ao piano com Sassetti em Minha Senhora das Dores ou a luminosa leitura de Menina do Alto da Serra são apenas duas marcas de identidade sóbria, segura, honesta e claramente actual.
Broadcast. “Tender Buttons”
N.G.: Reduzidos a um duo (Trish Keenan e James Cargill), os Boradcast assinalam ao terceiro álbum uma considerável mudança de política. Mantém evidentes afinidades com a ideia de uma pop electrónica lo-fi que ainda lembra os Stereolab, mas abandonam a grandiosidade dos registos anteriores para abraçar um depoimento de espartana contenção de registos e elementos, e cortaram o orçamento de devaneios psicadélicos ao mínimo dos mínimos... O álbum sabe um pouco àqueles pratos vegetarianos sem sal nem ervas aromáticas. É austero, por vezes demasiado cerebral, decididamente menos estimulante que os dois álbuns anteriores. Tem todavia as suas janelas de luz, herdeiras da memória de dias passados, seja no soberbo single America’s Boy (Ladytron de neura) ou no belíssimo You And Me In Time.
Elbow “Leaders Of The Free World”
N.G.: Com sentido de humor e alguma razão, os Elbow auto intitularam-se como “prog sem os solos”… O seu novo disco continua a dar-lhes razão, e a colocá-los a milhas da mediania das bandinhas trálálá para guitarras com ar de coisa séria suas contemporâneas como os Doves, Starsailor Turin Brakes ou Travis. Uma reflexão sobre o mundo político e mediático em que vivemos numa mão cheia de belíssimas canções clássicas bem estruturadas, de arranjos elaborados, que não escondem uma admiração antiga pelos jogos harmónicos de Peter Gabriel e pelo sentido de espaço e corpo de um Mark Hollis. Uma banda para continuar a acompanhar com atenção.
Também esta semana: Boards Of Canada, Tributo a John Peel, Moondog (reedição), Nils Peter Molvaer, Cardigans, June Tabor, We Are Scientists (edição nacional só em Fevereiro de 2006), Arab Strap, Vashti Bunyan, Public Enemy (best of)
Brevemente
24 Outubro: David Fonseca, Safety Scissors, Múm (reedição), Murcof, Dirty Three, Deep Purple, Soulwax (remisturas), Her Space Holiday, Phil Manzanera, John Lydon (antologia), Bruce Springsteen (DVD), Gang Of Four (regravações), Prodigy (best of), Anja Garbarék, New Order (dois DVDs, um de telediscos, outro com um documentário), Louis XIV, Fierey Furnaces, George Harrison (reedição de Concert For Bangladesh), Coloma
31 Outubro: Clã (DVD), Blondie (best of), Madredeus (DVD), Louis XIV, We Are Scientists, Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Mafalda Arnauth, The National (edição local), Scout Niblett, Spoon (edição local), Gris Gris, Electraleane, Lisa Gerrard (banda Sonora), Limousine, El Presidente, Thumbsucker BSO, Vashti Bunyan, Luomo, Gang Gang Dance, Caribou (DVD), John Zorn Electric Masada, The Rakes, Jim White, Nirvana (antlogia), Stevie Wonder, Yello (reedições)
Novembro: Moby (DVD), Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais), David Bowie (3CD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Eurythmics (oito reedições + best of), Duran Duran (DVD + CD ao vivo), Marianne Faithfull (DVD), Blondie (DVD), Kaiser Chiefs (DVD), Teresa Salgueiro, Franz Ferdinand (DVD) Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast,
Sem data: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), Kraftwerk (DVD), Camané (DVD)
Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur
As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.
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