Não vale a pena ver nenhum filme português (em boa verdade, qualquer filme) como se dele dependesse a salvação do mercado ou a nossa própria relação com o cinema. It's just a movie, dizia o velho Hitchcock. Daí que valha a pena olhar para Alice, primeira longa-metragem de Marco Martins, com algo mais do que a velha crispação piedosa (será desta?...) que tanto mal tem feito ao cinema português.
Alice, infelizmente, é um objecto fragilizado pelo seu próprio formalismo e pelo modo como nele, e através dele, se vão perdendo as personagens e o "feeling" da cidade que o filme tenta agarrar. Seja como for, Alice é também um filme com uma salutar preocupação: a de tentar olhar o nosso quotidiano — e as gentes dentro dele —, recusando liminarmente as convenções e a retórica da toda poderosa telenovela. Além do mais, é um filme em torno do qual não houve medo de apostar, de forma serena e muito elaborada, numa inteligente campanha de promoção (jornais + televisão + Internet), das mais interessantes que, em tempos recentes, se fizeram no nosso país. É bom desdramatizar preconceitos, mesmo quando os filmes ficam aquém das suas potencialidades ou das nosssas expectativas.