segunda-feira, maio 09, 2016

CANNES 2016 * — filmes em competição (17)

FORUSHANDE
Asghar Farhadi
(Irão)
Autor de Uma Separação (2011) e O Passado (2013), Asghar Farhadi é um dos nomes fulcrais da actual produção iraniana, explorando de modo sistemático e obsessivo as convulsões de pares homem/mulher. Vai estar presente na competição de Cannes com Forushande (título francês: Le Client; título inglês: The Salesman), sobre um casal compelido a procurar um novo apartamento em Teerão... Neste video de 'The Kamla Show', o escritor e jornalista Pico Iyer avalia a compreensão do Irão contemporâneo através dos filmes de Farhadi.


Recordando "Purple Rain" (o filme)

No dia 6 de Maio, o filme Purple Rain, com Prince, foi objecto de uma breve reposição em cinemas de Lisboa e Porto — este texto foi publicado nesse mesmo dia, no Diário de Notícias, com o título 'Quando Prince experimentou o universo cinematográfico'.

Queixamo-nos, por vezes, e com razões muito objectivas, da inércia do mercado cinematográfico face ao imprevisto da actualidade. De facto, podemos imaginar as mais diversas formas de programação apostadas em corresponder aos temas decorrentes das notícias (e não apenas do mundo do cinema). Esta semana temos uma excepção que vale a pena sublinhar: evocando Prince (falecido a 21 de Abril), os cinemas UCI do El Corte Ingles (Lisboa) e Arrábida (Porto) vão exibir amanhã o filme Purple Rain (dia 6: 19h00 e 21h30).
Sem que isso minimize o génio musical de Prince Rogers Nelson (bem pelo contrário... ), talvez seja pedagogicamente útil relembrar que a sua herança cinematográfica está longe de ser brilhante. Ao mesmo tempo, não deixa de ser uma herança sintomática do seu sentido visionário: numa altura de espectacular reconversão dos parâmetros do universo musical, nomeadamente através do aparecimento da MTV (cujas emissões tinham arrancado em Agosto de 1981), Prince foi um dos primeiros — a par de Madonna, David Bowie ou os Rolling Stones — a compreender a importância de uma diversificação visual e mediática em que, obviamente, muito antes do YouTube ou Facebook, o cinema emergia como o território principal.


Purple Rain surgiu, assim, em 1984, como veículo de celebração da imagem de Prince, criador e intérprete de canções. Rezam as crónicas que o conceito foi desenvolvido ao longo da digressão de lançamento do álbum 1999 (o quinto da sua discografia, lançado em 1982), envolvendo a criação de um enredo mais ou menos romanesco, centrado na personagem de Prince (“The Kid”), um músico de Minneapolis, e em particular no seu romance com a cantora Apollonia, nome derivado da própria intérprete, Apollonia Kotero (a que Prince dera a liderança do grupo vocal Apollonia 6, por sua vez uma reinvenção de Vanity 6).
A realização de Alberto Magnoli, também responsável pela história (em colaboração com William Blinn), obedece a uma lógica “descritiva” em que as peripécias do argumento (muito ligeiras, por vezes algo desconexas) são sempre menos importantes do que os momentos especificamente musicais. “The Kid” é, assim, uma figura em permanente deambulação na sua emblemática moto Honda CM400 (modelo lançado em 1981), encarnando uma certa nostalgia cinéfila “on the road” (Easy Rider surgira em 1969) que, em todo o caso, desta vez, se projecta por inteiro na celebração da música.
Purple Rain foi mesmo um caso exemplar de colaboração estratégica dos mercados musical e cinematográfico, já que o filme surgiu nas salas dos EUA a 27 de Julho de 1984, um mês e dois dias depois do lançamento do álbum homónimo. Para a história, Purple Rain ficou como uma primorosa colecção de canções, incluindo o tema-título e ainda, por exemplo, Let’s Go Crazy, When Doves Cry e I Would Die 4 You. Nas salas portuguesas, o filme surgiu em 1985 como Viva a Música! — um título não muito inspirado que, agora, em todo o caso, pode resumir a nossa admiração pela herança de Prince.

CANNES 2016 * — filmes em competição (16)

SIERANEVADA
Cristi Puiu
(Roménia)
Sieranevada é a nova proposta do romeno Cristi Puiu [à esquerda da foto, num momento da rodagem]: uma história centrada numa reunião familiar motivada pelo aniversário da morte do pai do protagonista. Consagrado em Cannes, em 2005, com A Morte do Sr. Lazarescu, Puiu é, juntamente com Cristian Mungiu (também na competição deste ano, com Bacalaureat) e Corneliu Porumboiu, um dos expoentes da "nova vaga" da Roménia e, sobretudo, do seu obsessivo realismo — neste video, extraído dos extras do DVD do seu filme Aurora (2010), apresenta uma sugestiva condensação do seu conceito de cinema.


CANNES 2016 * — um mapa para o festival

É uma pedagógica proposta da revista francesa Télérama: um inventário das nacionalidades dos filmes que vão estar presentes na 69ª edição do Festival de Cannes. No site da revista, um click em cada um dos símbolos figurados no mapa permite identificar um filme, a sua origem, o realizador e principais intérpretes — e ainda a secção em que vai surgir (competição e extra-competição, "Un Certain Regard", Quinzena dos Realizadores ou Semana da Crítica).

domingo, maio 08, 2016

CANNES 2016 * — filmes em competição (15)

AMERICAN HONEY
Andrea Arnold
(Reino Unido)
Com a estreante Sasha Lane [foto], o novo filme da inglesa Andrea Arnold, American Honey, é o primeiro por ela dirigido fora dos EUA, centrando-se nas atribulações de um grupo de jovens que vendem assinaturas de revistas ao domicílio... Para já, não se sabe muito sobre o filme, a não ser que um acidente de Shia LaBeouf durante a rodagem gerou alguma especulação [video]. Recorde-se que Arnold já ganhou duas vezes o prémio do júri em Cannes, com Sinal de Alerta (2006) e Aquário (2009).



Maquilhagem, glamour e crueza

No mundo da moda, Sil Bruinsma é uma figura que se destaca pelo arrojo do seu conceito de maquilhagem, combinando "glamour e crueza". A sua associação com o fotógrafo Paul Maffi tem dado origem a imagens que, por assim dizer, envolvem tanto de documento como se assombramento — dossier disponível no site models.com.

CANNES 2016 * — filmes em competição (14)

AQUARIUS
Kleber Mendonça Filho
(Brasil)
Sónia Braga interpreta uma ex-jornalista da área da música, habitante de um prédio de dois andares que foi adquirido por uma companhia apostada em afastar todos os inquilinos: é esse o ponto de partida de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, o filme com que o Brasil regressa à competição de Cannes, depois de um interregno de oito anos (Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas esteve na edição de 2008) — eis uma notícia dada pela Folha de Pernambuco.



Memórias de José Fonseca e Costa

A estreia de Axilas, derradeiro filme de José Fonseca e Costa, é pretexto para uma revisitação de alguns títulos emblemáticos da sua filmografia — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 Abril), com o título 'Um cineasta seduzido pelas grandezas e misérias dos seres humanos'.

Será que existe um cinema picaresco português? A pergunta não é tanto histórica como simbólica. Não se trata de encontrar cauções literárias, recuando à inspiração remota do sarcasmo do século XVI, a começar pelas atribulações de Lazarillo de Tormes. Trata-se, isso sim, de perguntar até que ponto o gosto pelas desmontagem das aparências sociais perpassa em alguns filmes portugueses, sem que isso os impeça de vaguear pelas ilusões do romantismo.
Colocada assim, a questão encontra importantes ecos na filmografia de José Fonseca e Costa (1933-2015). Afinal de contas, de Kilas, o Mau da Fita (1980) ao seu título derradeiro, Axilas, ele apostou em construir ficções fundamentadas numa metódica e implacável atenção a tudo aquilo que, nas trocas sociais, envolve formas de domínio de uns seres humanos sobre outros — do espaço familiar às convulsões ideológicas, passando, claro, pelos sobressaltos do sexo.
Curiosamente, semelhante estratégia narrativa foi sendo pontuada por uma vontade de internacionalização da produção portuguesa que se traduziu na regular integração de intérpretes de outros países: por exemplo, a espanhola Victoria Abril em Sem Sombra de Pecado (1983); outra espanhola, Assumpta Serna, em Balada da Praia dos Cães (1987); ou o brasileiro Carlos Vereza em Os Cornos de Cronos (1991). Se essa continua a ser uma via importante para a produção de um pequeno país como Portugal, eis uma questão que permanece em aberto (contaminando, como é óbvio, a obra de outros cineastas). Seja como for, isso não impediu Fonseca e Costa de, através de tais escolhas, assinar alguns dos seus trabalhos mais pessoais, porventura mais confessionais: Os Cornos de Cronos, em particular, retrato de uma solidão visceralmente masculina, é uma obra que vale a pena rever e reavaliar através dos seus inusitados laços com Axilas.

Da política ao humor

Estes são dados que aconselham a superar a visão de Fonseca e Costa como um realizador tocado “apenas” por temas de cariz político. Claro que ele é autor de O Recado (1972), com Maria Cabral, uma crónica dos anos finais do Estado Novo, enredada numa teia de metáforas e ambiguidades arquitectada para contornar as restrições da censura.
Claro também que Balada da Praia dos Cães e Cinco Dias, Cinco Noites (1996), respectivamente inspirados em José Cardoso Pires e Manuel Tiago (pseudónimo de Álvaro Cunhal), são momentos emblemáticos de um cinema português empenhado em lidar com as memórias da ditadura. Isto sem esquecer que, até pelas reacções contrastadas que suscitou, Os Demónios de Alcácer-Quibir (1977) ilustra aquilo que, para o melhor ou para o pior, foi o “cinema político” do pós-25 de Abril.
Resta saber se a dimensão mais radical do criador de Kilas, o Mau da Fita não se encontra num território pleno de humor (“picaresco”, ligado à tradição “burlesca”) em que se contemplam as grandezas e misérias dos seres humanos. Nesta perspectiva, valerá a pena recordar que Fonseca e Costa foi um cineasta seduzido por intérpretes de festiva versatilidade em que a exuberância cómica não exclui, antes favorece, uma intensidade tecida do mais depurado dramatismo — penso, em particular, em Mário Viegas e Lia Gama (ambos presentes no Kilas).
Nesse aspecto, é também revelador que Fonseca e Costa se tenha interessado por uma actriz tão admirável como Ivone Silva, com ela rodando uma exemplar série televisiva intitulada Ivone, a Faz Tudo (1979). Estava em jogo um fundamental elo criativo com os valores mais genuínos do teatro de revista — eis um dos muitos domínios da cultura popular que o império da telenovela se tem encarregado de destruir metodicamente.

CANNES 2016 * — filmes em competição (13)

JUSTE LA FIN DU MONDE
Xavier Dolan
(Canadá)
Menino-prodígio de Cannes, o canadiano Xavier Dolan partilhou, em 2014, com o seu Mommy, o prémio do júri (ex-aequo com Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard). Está de volta à competição com Juste la Fin du Monde, adaptação da peça de Jean-Luc Lagarce sobre um escritor que regressa à casa de família para dar conta da sua doença terminal; o elenco é particularmente impressionante, incluindo Gaspard Ulliel, Nathalie Baye, Vincent Cassel, Marion Cotillard e Léa Seydoux — esta é uma notícia sobre o projecto, difundida em Cannes/2015, quando Dolan fez parte do júri oficial.


sábado, maio 07, 2016

Os cães de Tegan & Sara

Bem sabemos que um cão é suficiente para fazer um teledisco... Melhor do que isso? Talvez dois cães. Ou três... Em vésperas de lançarem o seu oitavo álbum de estúdio, Love You to Death (3 Junho), as canadianas Tegan and Sara decidiram encenar o tema 100x recorrendo aos bons serviços de Jess Rona, um especialista em filmar os melhores amigos do homem — e da mulher, bem entendido. Os resultados são exuberantemente diferentes de tudo o que já vimos dentro do género, revelando algumas estrelas de quatro patas, devidamente identificadas no genérico final.