quarta-feira, maio 13, 2020

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FOTOGRAFIAS_João Lopes

Moda + beleza + COVID-19

FOTO: Richard Bush / MODELO: Ajsa Movic
Document (Primavera/Verão 2020)
Como todas as publicações jornalísticas, também a Document, magazine de tendências culturais e de moda, está a viver tempos de confinamento, apostando em vencer as barreiras impostas pelo COVID-19. Sem que isso altere a regularidade e a singularidade das respectivas edições, como o prova o número de Primavera/Verão. Precisamente para avaliar o ponto da situação, o site models.com entrevistou Sarah Richardson e Lucia Pieroni, respectivamente responsáveis pelos departamentos de moda e beleza da Document. O resultado é uma interessante conversa por onde perpassam temas que vão desde a mutabilidade dos padrões de beleza até às futuras formas de organização do trabalho. Sem esquecer o valor da bondade humana — ou como diz Peroni: "Seja bondoso e lave as mãos."

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Cher canta "Chiquitita"

Aos 73 anos (celebra 74 a 20 de Maio), Cher lançou o seu primeiro single em língua espanhola: uma versão de Chiquitita, original dos ABBA que foi o primeiro single do álbum Voulez-Vous (1979). A canção retoma, assim, o seu papel de veículo em favor de acções humanitárias: foi lançada a 9 de Janeiro de 1979, no evento designado como 'Music for UNICEF Concert'; regressa agora ligada às acções desenvolvidas pela UNICEF no sentido de proteger as populações infantis do COVID-19 — notícia na Rolling Stone; teledisco aqui em baixo.

terça-feira, maio 12, 2020

Dylan — novo álbum a 19 de Junho

O 39º álbum de estúdio de Bob Dylan vai chamar-se Rough and Rowdy Ways — sai no dia 19 de Junho. Entretanto, podemos escutar mais uma magnífica canção, False Prophet, reafirmando uma velha sensibilidade não alinhada.

I’m the enemy of treason - the enemy of strife
I’m the enemy of the unlived meaningless life
I ain’t no false prophet - I just know what I know
I go where only the lonely can go

segunda-feira, maio 11, 2020

Defender as salas de cinema
— que políticas culturais?

1948 — RIO VERMELHO
1971 - A ÚLTIMA SESSÃO
No mundo do cinema, a defesa das salas escuras é uma questão que já vinha de trás, tendo sido agravada pela pandemia. Questão cultural, por excelência, ou melhor, de política cultural — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 Maio), com o título 'Por amor do cinema'.

Amar o cinema. Eis um valor que, de uma maneira ou de outra, persiste através da cinefilia. Um dos filmes mais genuinamente cinéfilos da minha geração conta uma história em que a própria definição de “juventude” envolve esse amor. Chama-se A Última Sessão, tem data de 1971 e foi realizado pelo grande, e tão esquecido, Peter Bogdanovich. Aliás, o título original é ainda mais esclarecedor, uma vez que se refere a uma “última sessão de cinema” (The Last Picture Show).
Baseando-se num romance de Larry McMurtry, Bogdanovich faz o retrato de uma cidadezinha esquecida do Texas que, no ano de 1951, se parecia ainda com os povoados dos “westerns” no meio do deserto. É nesse contexto de muitos desencantos que alguns rapazes escolhem como alternativa a vida militar e, nessa medida, a participação na guerra da Coreia. Sinal directo, cruelmente simbólico, da desagregação de todo um modo de vida tradicional é o encerramento da única sala de cinema da cidade, o velhinho Royal. Na “última sessão”, precisamente, é exibido um clássico do “western”, afinal, na altura, um objecto contemporâneo, produzido apenas três anos antes: Rio Vermelho (1948), com John Wayne e Montgomery Clift, sob a direcção de Howard Hawks.
Com ou sem nostalgia, neste tempo em que a saúde pública é uma prioridade indiscutível, a questão da sobrevivência das salas de cinema volta a estar na ordem do dia. As regras de distanciamento social suspenderam, literalmente, a exibição cinematográfica, desde os tradicionais circuitos comerciais até muitos festivais programados para todos os recantos do planeta.
O certo é que as alternativas criadas ou consolidadas na Internet — os muitos modelos de plataformas de “streaming” — não são uma resposta directa à situação que estamos a viver. Dito de outro modo: o actual “boom” dessas plataformas (cujas virtudes não estão em causa) não é uma consequência unilateral da pandemia, uma vez que, como bem sabemos, a última década tem sido marcada pelo desenvolvimento exponencial do consumo de filmes online. De acordo com estatísticas recentes, a Netflix, pedra de toque de toda esta conjuntura, tem 182 milhões de assinantes em todo o mundo (incluindo 69 milhões nos EUA).
A história do cinema pode ser contada também como uma colecção de crises, entre a euforia e a depressão, protagonizadas pelas salas. Lembremos a eclosão do som, em finais da década de 1920, e a dramática reconversão técnica a que todos os cinemas foram obrigados. Ou, mais recentemente, a passagem da projecção com cópias em película para os suportes digitais.
[1946 - 1984]
Um pouco por toda a parte, as políticas culturais chegam quase sempre atrasadas a estas crises. Por uma razão de fundo que, de alguma maneira, a nossa “modernidade” agravou: fenómenos como a digitalização do cinema e a proliferação de circuitos online começaram por ser encarados como evoluções “meramente” técnicas, ignorando-se a sua dimensão (também) eminentemente cultural.
Enfrentar a hipótese de desmembramento do circuito das salas de cinema (ou a sua redução a mínimos “decorativos”) é, afinal, uma das prioridades culturais do momento. Dizê-lo não significa minimizar os muitos dramas que estão a ser vividos nos mais variados domínios artísticos; numa sociedade intrinsecamente democrática, nenhum desses domínios é secundário ou descartável.
Acontece que o cinema — entenda-se: os filmes vistos numa sala escura — constitui um dos últimos redutos que, apesar de tudo, resiste à formatação da cultura audiovisual dominante. Não se trata de opor cultura cinematográfica e cultura televisiva — será preciso recordar que os respectivos laços artísticos e financeiros se tornaram fundamentais? Trata-se, isso sim, de lembrar que o carácter instrumental, muitas vezes banal, do uso dos novos ecrãs (computador, telemóvel) não é uma boa razão para aniquilar uma cultura cinematográfica de mais de um século ligada às salas escuras, quer dizer, vivida através dos seus ecrãs. Desta vez, se tivermos uma “última sessão”, será sem alternativa.

Little Richard (1932 - 2020)

c. 1956 [Wikipedia]
Com a morte de Little Richard (dia 9 de Maio, em Nashville, contava 97 anos) desapareceu um dos pais do rock'n'roll. O modo como ao longo da década de 50 transformou o território da música popular acabou por valer-lhe o cognome de "The Originator". Muito para lá dos títulos emblemáticos da sua longa carreira (Lucille, Tutti Frutti, Long Tall Sally, etc.), ele foi um arquitecto de muitos cruzamentos e contaminações, do gospel à soul, afirmando uma identidade criativa também fundamental na história política dos afro-americanos.
Eis algumas pistas para (re)descobrir o seu imenso legado.

>>> Obituário na Billboard.
>>> Tributo de Bob Dylan.
>>> Little Richard no Rock & Roll Hall of Fame.
>>> 'Quando John Waters se encontrou com Little Richard' [The Guardian].
>>> Little Richard no AllMusic.

>>> Registo televisivo de Lucille (1957) + Let the Good Times Roll na 3ª edição dos Grammy (12 Abril 1961) + programa da Granada TV, com The Shirelles, gravado em Novembro 1963, transmitido a 8 Janeiro 1964.





domingo, maio 10, 2020

Coronavírus e verdade [citação]

[Forbes]
>>> Não é possível ter sucesso na guerra contra o coronavírus ao mesmo tempo que se trava uma guerra contra a verdade, que é aquilo que Donald Trump continua a fazer. O custo disso mede-se, de facto, em vidas.

CARL BERNSTEIN
in CNN
10 Maio 2020

sábado, maio 09, 2020

Hayley Williams, opus 1

A capa é um pequeno e sóbrio prodígio de invenção — ou como o corpo pode ser o signo ambíguo de um alfabeto de discreta sensualidade. As canções reflectem a mesma vontade de trabalhar sobre materiais conhecidos e reconhecíveis, reafirmando a energia primitiva de uma pop natural, tecida de muitas nuances melódicas e emocionais: Petals for Armor é a estreia a solo de Hayley Williams, vocalista dos Paramore, banda que pratica um rock de contida sofisticação, aliás bem ilustrado pelo seu maior sucesso, a canção Decode, utilizada na banda sonora do primeiro Twilight (2008). Em boa verdade, estamos perante uma feliz derivação da sonoridade dos Paramore, até porque a produção tem assinatura de um dos seus elementos, o guitarrista Taylor York. Exemplo: o belo jogo coreográfico de Cinnamon, numa realização de Warren Fu.

sexta-feira, maio 08, 2020

João Céu e Silva
reinventa Fernando Pessoa

© Vítor Higgs
De Fernando Pessoa sabemos que foi um poeta de vários heterónimos, quer dizer, alguém que transformou o prazer e a insatisfação da escrita em método de infinita prospecção, introspecção e odisseia através das palavras. Qual a herança dessa capacidade de reinvenção? Pois bem, a possibilidade sempre em aberto de a prolongar no presente — e para o nosso presente.
É essa a hipótese, de uma só vez didáctica e surreal, cerebral e sensual, arquitectada por João Céu e Silva no romance inédito A Segunda Vida de Fernando Pessoa, cuja publicação está a decorrer nas páginas do Diário de Notícias. O poeta regressa, assim, com as vestes e a pose de Vicente Guedes, heterónimo que foi preterido como autor de O Livro do Desassossego (para Bernardo Soares).
Estamos perante um envolvente jogo de espelhos — "Tal como acontecia em filmes policiais, não duvidei que estava a ser observado do outro lado do espelho" (cap. 4) — em que qualquer personagem existe como "eu e o outro", gerando um universo alternativo que, perversamente, contamina o trabalho do próprio leitor. As ilustrações de Vítor Higgs sugerem de forma particularmente feliz essa festiva deambulação da linguagem em que, em última instância, o puzzle Pessoa se confunde com a invenção de uma pessoa.
Eis um belo drama, talvez melodrama, visceralmente português — para ler no site do Diário de Notícias, em 12 capítulos.