sexta-feira, agosto 15, 2025

Sirât, para lá do mundo material

Está nas salas aquele que foi um dos fenómenos do último Festival de Cannes, onde recebeu o Prémio do Júri: Sirât é um filme que, segundo o seu realizador, Oliver Laxe, “nos ajuda a sentir que vivemos num mundo encantado e mágico” — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 julho).

No filme Sirât, de Oliver Laxe, Luis (Sergi López) e Esteban (Bruno Nuñez Arjona), pai e filho, chegam a uma rave, algures no deserto de Marrocos, e começam a distribuir panfletos com o retrato de uma jovem... Quem é ela? Trata-se da irmã de Esteban, filha de Luis — desapareceu numa daquelas odisseias de música electrónica e, esperando encontrá-la, os protagonistas vão acompanhando aquilo que está a acontecer.
Que acontece, então, em Sirât? Muito pouco. Luis e Esteban integram-se na deambulação de um grupo, eventualmente a caminho de outra rave, com o pai a ensaiar algum diálogo filosófico sobre os destinos do mundo... A meio caminho entre uma “reportagem” redundante, em tom pitoresco, e a celebração das paisagens desérticas (impressionantes, sem dúvida), o filme vai-se arrastando num tom repetitivo, aqui e ali introduzindo algumas componentes bizarras que parecem procurar os efeitos de uma comédia do absurdo.
O espectador desconcertado (é o meu caso, confesso) procura algum apoio para esclarecer de onde vem, e para onde vai, o projecto, até porque a proposta de Oliver Laxe é mesmo ambiciosa — com toda a legitimidade, convém acrescentar. Numa entrevista dada a The Upcoming (página do YouTube dedicada aos “mundos do Cinema, da Comida e da Música”), podemos encontrar o seu depoimento, registado no dia 18 de maio, durante o Festival de Cannes (onde viria a receber o Prémio do Júri).


Logo na primeira pergunta, a entrevistadora tem o cuidado de dizer que Sirât evolui num sentido “espiritual e existencial”. Eis o essencial da resposta: “Sinto que há regras no universo. Para lá do mundo material, há uma espécie de outro mundo que vibra subtilmente. Nos meus filmes convido o espectador, já que creio que o cinema nos ajuda a sentir que vivemos num mundo encantado e mágico. Há uma aventura física que é, ao mesmo tempo, metafísica. A minha ideia é fazer com que o espectador olhe para dentro de si próprio.” Olhando para dentro de mim próprio, vejo tais palavras como banalidades “new age”, algo retardadas, que acabam por resumir Sirât como uma espécie de Mad Max transfigurado em tese, metafísica sem dúvida, sobre aquilo que escapa às nossas percepções correntes.
Mad Max é mesmo uma das inspirações que alguma crítica francesa cita para situar o filme, a par de clássicos como Zabriskie Point (Michelangelo Antonioni, 1970) ou Estrada Perdida (David Lynch, 1997). Não acredito que seja missão de um crítico de cinema “recomendar” o que quer que seja, mas neste caso, na solidão em que me reconheço, só posso apelar ao leitor/espectador para que não perca Sirât — se possível, sugiro também que reveja os filmes de Antonioni e Lynch, porventura conseguindo organizar as suas ideias sem a inquietação que me assalta.

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>>> Cena final de Zabriskie Point + Antonioni sobre o futuro do cinema (1985).
 



>>> Cena da festa em Lost Highway / Estrada Perdida + Lynch sobre a dualidade do seu cinema (2006).
 


The Cranberries, 30 anos depois

É o álbum de Zombie, mas também de Ode to My Family e Dreaming My Dreams (em baixo, numa performance de 1994 na BBC, no programa Later... with Jools Holland): No Need to Argue, nº2 na discografia dos irlandeses The Cranberries, surgiu em finais de 1994, reaparecendo agora numa edição Deluxe comemorativa dos seus 30 anos — mantém-se a imagem da banda no sofá que, afinal, já tinha sido usado na capa de Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We? (1993), álbum de estreia da banda irlandesa — enjoy.
 

quinta-feira, agosto 14, 2025

The Rocky Horror Picture Show — 50 anos

Algures entre a paródia aos lugares-comuns do horror e a reinvenção burlesca dos clássicos da Broadway, The Rocky Horror Picture Show é um clássico de culto tanto mais lendário quanto o filme realizado por Jim Sharman parece ter inventado um modelo de espectáculo que, em boa verdade, ninguém conseguiu repetir. Resultante de uma coprodução Reino Unido/EUA, teve a sua estreia absoluta em Londres, no Rialto Theatre — foi no dia 14 de agosto de 1975, faz hoje 50 anos.

quarta-feira, agosto 13, 2025

Guitarra & Voz [7/10]

MAURO PASSOS
Os Índios da Meia-Praia

Guitarras, no plural: Mauro Passos interpreta a canção que José Afonso compôs para o filme Continuar a Viver (1977), de António da Cunha Telles — na discografia de José Afonso, Os Índios da Meia-Praia integra o alinhamento do álbum Com as Minhas Tamanquinhas (1976).


[ Ryan Adams ] [ David Fonseca ] [ Bruce Springsteen ] [ Joni Mitchell ] [ Eddie Vedder ]
[ Bob Dylan ]

Taxi Driver: a cor do sangue

Mr. Scorsese: assim se chama o documentário (5 episódios) sobre Martin Scorsese, realizado por Rebecca Miller, com estreia agendada para 17 de outubro, na Apple TV+. Eis uma primeira amostra, sobre o tratamento cromático do sangue em Taxi Driver — a história é conhecida, mas contada assim adquire uma nova dimensão.

terça-feira, agosto 12, 2025

Novo livro de Patti Smith

Patti Smith tem um novo livro: Bread of Angels será lançado a 4 de novembro, pela Random House, com uma foto de Robert Mapplethorpe na capa — na sua conta de Substack, encontramos a notícia, e também algumas memórias para explicar de que memórias se trata.

domingo, agosto 10, 2025

The Favors, The Hudson

Ele é Finneas (irmão de Billie Eilish), ela Ashe — ou seja, The Favors. O seu primeiro álbum, The Dream (19 set.), promete nostalgia romântica e sofisticação pop. Cartão de visita: The Hudson.