As remisturas de Ray of Light (1998), concebidas como uma espécie de duplicação electrónica do original vão, finalmente, ser editadas. Madonna reencontra, assim, o seu fantasma artístico a que deu o nome de Veronica Electronica — um renascimento musical e conceptual com lançamento marcado para 25 de julho. Eis o trailer do álbum e, em baixo, o tema Skin.
sound + vision
quarta-feira, junho 18, 2025
Alfred Brendel (1931 - 2025)
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Na companhia de Minnie |
Escutemos o Impromptu Op. 90 (Andante), de Franz Schubert, por Alfred Brendel. Ou como o pianista que, depois dos 16 anos, nunca mais recebeu lições formais de piano transfigurava em coisa muito sua os sons ambíguos do classicismo marcado pela libertação romântica.
Brendel nasceu em Wizemberk, Checoslováquias, a 5 de janeiro de 1931, tendo falecido a 17 de junho, em Londres — contava 94 anos.
>>> Obituário: NPR + Gramophone + BBC.
domingo, junho 15, 2025
Fiona Apple: como fazer uma canção política
Nas suas actividades filantrópicas e de apoio social, Fiona Apple tem servido como observadora do funcionamento dos tribunais, deparando com muitas situações em que as pessoas presentes aos juízes (sobretudo mulheres), mesmo quando não se confirma qualquer acusação, só são libertadas depois de pagarem uma fiança específica (cash bail: valor médio de 10 mil dólares) para os seus casos. Na prática, sem condições para pagar o valor imposto por lei, acabam por ser encarceradas.
A autor de Fetch the Bolt Cutters (o seu álbum mais recente, 2020) decidiu dar conta da situação numa composição de sua autoria. Pretrial (let her go home) é um exemplo modelar do que é, ou pode ser, um tema de consistente intervenção política, alheio a estereótipos "militantes" — ficará, por certo, como uma das grandes canções de 2025.
sexta-feira, junho 13, 2025
Glenn Gould gravou as Variações Goldberg há 70 anos
Se há milagres na história da música, este é um deles: a gravação das Variações Goldberg, de Bach, por Glenn Gould. Foi há 70 anos — eis a respectiva ária.
Brian Wilson (1942 - 2025)
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[Wikipedia] |
O legado de Brian Wilson envolve o fulgor e a sofisticação da arte da composição, a imagem de felicidade dos Beach Boys e, arrastando tudo isso, uma filosofia pop que está para lá de qualquer género, já que, sendo musical, é acima de tudo existencial — das suas boas vibrações, eis algumas imagens de Glastonbury, em 2005.
quarta-feira, junho 11, 2025
Nashville: 50 anos
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Robert Altman |
Verdadeiro experimentador, nostálgico e vanguardista, Robert Altman (1925-2006) ocupa um lugar central na história do "New Hollywood" e das suas muitas transfigurações da herança clássica. Na sua filmografia encontramos alguns frescos capazes de combinar as singularidades das personagens com o sentimento de pertença a um colectivo em que se recolhe um povo assombrado pelas contradições da sua própria utopia. Nashville pode servir de exemplo modelar do seu trabalho — estreou-se no dia 11 de junho de 1975, faz hoje 50 anos.
Bono: as canções dos U2... e mais além
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Bono como cantor e actor da sua própria história |
Redescobrimos Bono como cantor dos U2 e actor da sua própria vida: filmado no palco do Beacon Theatre, em Nova Iorque, Bono: Stories of Surrender (Apple TV+) supera os limites do tradicional “filme-concerto”; a realização é de Andrew Dominik, o cineasta de Blonde — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 maio).
Decididamente, na maior parte das plataformas disponíveis em Portugal, a arte de dar títulos aos filmes não é questão prioritária. O exemplo de Bono: Stories of Surrender aí está para ilustrar a indiferença com que, tantas vezes, o assunto é encarado. Assim, o filme foi lançado na Apple TV+ como Bono: Histórias de Surrender.
“Histórias de Surrender”? Acontece que, em 2022, o vocalista dos U2 lançou uma autobiografia intitulada Surrender: 40 Songs, One Story — a edição portuguesa, também de 2022, com chancela da editora Objectiva, chama-se Surrender: 40 Canções, uma História. Além do mais, as memórias de Bono estão interligadas com a edição, em 2023, de um álbum dos U2, Songs of Surrender, revisitando, precisamente, com novos arranjos, alguns dos seus temas mais emblemáticos.
Dito de outro modo: não é fácil traduzir ou contextualizar o verbo “surrender”. No caso do filme, talvez esta fosse uma das excepções em que, serenamente, mais valia manter (todo) o original, evitando a confusão adoptada. Até porque, de facto, o verbo emerge em várias significações que pontuam o concerto que constitui a matéria viva do filme realizado pelo neo-zelandês Andrew Dominik.
O significado de “render” ou “rendição” (imediatamente evocado por “surrender”) é escasso para dar conta daquilo que está em jogo — e que, importa sublinhar, se revela vital no discurso de Bono ao longo de todo o concerto. Este é mesmo um daqueles casos em que nenhum verbo português parece poder abarcar a pluralidade de sugestões e significações do original. Porquê? Porque a “rendição” de que aqui se fala não se confunde com a entrega a um poder superior. O que Bono descreve, comenta e canta é a sua capacidade de, finalmente, lidar com as convulsões de toda uma vida. Trata-se, primeiro, de reconhecer ilusões e equívocos, desembocando na capacidade de os colocar lado a lado com as alegrias vividas — humildade e aceitação são, assim, os temas aglutinadores destas Stories of Surrender.
A noção corrente de “filme-concerto” é, por isso, insuficiente para dar conta daquilo a que assistimos. São vibrantes e contrastadas as memórias que se cruzam — do nascimento dos U2 até à sua condição de banda “mainstream” (de acordo com o termo que o próprio Bono aplica), passando pelas palavras e, sobretudo, os silêncios da sua difícil relação com o pai. São matérias de uma teatralidade feliz, com o palco do lendário Beacon Theatre, na Broadway (sala inaugurada em 1929), a transfigurar-se em lugar de muitas evocações minimalistas, no limite bastando uma cadeira e um foco de luz. Sem esquecer que tudo isso se intensifica através da poesia primitiva das imagens a preto e branco, assinadas por Erik Messerschmidt (“oscarizado” em 2021 pela direção fotográfica de Mank, de David Fincher).
Com a realização de Bono: Stories of Surrender, Andrew Dominik merece que o encaremos para lá da condição de funcionário versátil que, por vezes, tende a resumir o seu trabalho. Lembrando, antes do mais, que na sua filmografia encontramos uma importante ligação com as matérias musicais: são dele os documentários One More Time with Feeling (2016) e This Much I Know to Be True (2022), ambos sobre Nick Cave.
Depois da estreia na longa-metragem, com o policial Chopper (2000), uma produção australiana, Dominik assinou dois títulos capazes de reimaginar as regras clássicas dos respectivos géneros: um western, O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford (2007), e um thriller, Mata-os Suavemente (2012), ambos protagonizados e produzidos por Brad Pitt. Finalmente, o seu retrato trágico de Marilyn Monroe, Blonde (2022), com Ana de Armas, a partir do romance de Joyce Carol Oates (de novo com produção de Brad Pitt), confirmou-o como um invulgar arqueólogo das mitologias do espectáculo.
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terça-feira, junho 10, 2025
Alice Sara Ott na NPR
Pianista alemã de ascendência japonesa (nascida em Munique, em 1988), Alice Sara Ott é um caso muito sério de talento, sofisticação e versatilidade. Assim o prova o seu Tiny Desk Concert [NPR], combinando Chopin e... Chilly Gonzalez — a gravação é de julho de 2023.
segunda-feira, junho 09, 2025
Psycho Killer, com Saoirse Ronan
A especialíssima reedição de Talking Heads: 77, o álbum de estreia da banda de David Byrne (guitarra, voz), Chris Frantz (bateria), Tina Weymouth (baixo) e Jerry Harrison (guitarra, teclados), possui agora um magnífico complemento: um teledisco de Psycho Killer, lançado como acto de celebração dos 50 anos do primeiro concerto da banda no CBGB. Saoirse Ronan protagoniza e Mike Mills realiza — ou como um clássico se transfigura através de uma nova dialéctica espaço/tempo gerada por uma montagem visceralmente cinematográfica.
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