quarta-feira, dezembro 18, 2024

Patti Smith
— uma canção dos U2

Na sua conta da plataforma Substack, Patti Smith dá notícias do livro que está a escrever, partilhando uma sua performance ao vivo, com Tony Shanahan no piano — é um tema dos U2, Love is all we have left, do álbum Songs of Experience (2017).

A song for you by Patti Smith

love is all we have left

Read on Substack

segunda-feira, dezembro 16, 2024

“Reality TV”
— como se destrói o humanismo

Como começou o Big Brother televisivo? A mini-série francesa Culte (Prime Video) revisita as suas origens através da história do nascimento da respectiva versão francesa, intitulada Loft Story: um belo exercício de ficção que nos confronta com a violência afectiva da “televisão da realidade”.

Há mais de vinte anos, a vulgaridade da “Reality TV” ocupa espaços e tempos muito significativos nos nossos ecrãs caseiros, mas a reflexão sobre a formatação audiovisual de tão triste fenómeno é praticamente nula. Não acontece assim em França, como se prova pela excelente mini-série Culte, agora disponível, em “streaming”, na Prime Video (em paralelo com a actual programação na versão francesa da mesma plataforma). É pena que a Prime Video não encare com especial interesse a difusão de Culte. Desde logo porque a série surge apresentada com textos em inglês. Como se isso não bastasse, as legendas disponíveis são em francês (com informações complementares sobre os sons), inglês ou holandês… nada em português. No meio da pompa tecnológica que a maior parte das plataformas gosta de exibir, será que, no seu interior, já não há quem dedique algum tempo a pensar as especificidades culturais dos consumidores?
Entenda-se: não se trata de celebrar Culte como um acontecimento banalmente “temático”. Estamos perante um trabalho de rigorosa concepção narrativa, a começar pela realização de Louis Farge, orientada por um fundamental princípio (temático, precisamente): trata-se de abordar a “Reality TV”, não através de qualquer abstração descritiva ou crítica, mas como um dispositivo gerado por formas concretas de trabalho — neste caso, a criação, em 2001, de Loft Story, variação francesa do Big Brother. Além do mais, os autores da série, Matthieu Rumani e Nicolas Slomka, souberam escolher um elenco de talentosos intérpretes, impecavelmente dirigidos, mostrando que é possível ocupar os ecrãs caseiros com algo bem diferente dos estereótipos das novelas.
Tudo começa com a personagem de Isabelle de Rochechouart (Anaïde Rozam, que vimos, por exemplo, em Paris, 13, produção de 2021 realizada por Jacques Audiard). Na empresa produtora de Philippe Palazzo (Nicolas Briançon), Isabelle e os colegas especulam sobre a possibilidade de criar um programa de “Reality TV” que siga o modelo do Big Brother: um conjunto de pessoas fechadas numa casa durante algumas semanas, permanentemente observadas pelas câmaras, tudo transformado num espectáculo de “animais de feira” (a expressão está nos diálogos) em que as exclusões regulares dos concorrentes resultarão do voto “popular”…
Culte inspira-se em personagens verídicas, nomeadamente John de Mol, fundador da Endemol, a empresa que lançou o Big Brother — aqui, temos Liam de Lint (Koen de Bouw), em qualquer caso, como esclarece uma legenda inicial, não um “duplo”, mas uma figura ficcionada, como acontece, aliás, com todas as personagens da série. Aquela que estará mais “próxima” do que aconteceu será Loana (notável composição de Marie Colomb), claramente inspirada em Loana Petrucciani, concorrente da edição inaugural de Loft Story. Descoberta como bailarina de um cabaret em Nice, Loana é uma personagem de recorte trágico, com uma história pessoal pontuada por muitas agruras e violências que viriam a ser exploradas pela produção, incluindo, contra a sua vontade expressa, a divulgação de imagens do filho cuja guarda lhe fora retirada pela assistência social.

O que é o humanismo?

Sem descurar a complexidade dos factos, incluindo as obscenas manipulações de montagem efectuadas pela produção de Loft Story, os seis episódios de Culte expõem o cruel processo de destruição de qualquer visão humanista dos que surgem na “televisão da realidade”. Tudo isso cruzado com as negociações de bastidores que envolvem a exploração das rivalidades financeiras entre os canais M6 e TF1. Nesta perspectiva, Culte é um parente próximo de Unreal (2015-18), notável série americana, também sobre a produção de um programa de “Reality TV” (já difundida pelos canais TVCine).
Os horrores afectivos potenciados pelo ambiente retratado não envolvem qualquer demonização “generalista” da própria televisão como sistema de comunicação. Aliás, o contraponto é tanto mais interessante, por vezes estranhamente comovente, quanto Culte não desiste do humanismo — e da compaixão humanista — que Loft Story transforma em lixo mediático.
Com uma “coincidência” no mínimo perturbante: Alexia Laroche-Joubert, produtora do Loft Story original, inspiradora da personagem de Isabelle, é também um dos nomes que surge na ficha de produção de Culte. Em defesa dos seus direitos de imagem? É provável, não sabemos. Seja como for, eis um detalhe que nos recorda que a televisão é sempre o contrário da candura naturalista.

domingo, dezembro 15, 2024

2024 / 10 filmes [1]

* REALITY, de Tina Satter

Reality Leigh Winner (n. 1991) cumpriu pena de prisão por ter divulgado documentos secretos da National Security Agency (onde trabalhava como tradutora) sobre a interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016. Centrando-se na "visita" que o FBI faz a sua casa, este é um espantoso retrato de um espaço/tempo em decomposição face à impacável teatralidade do poder — aliás, Tina Satter começou por tratar o assunto em espectáculo teatral (intitulado Is This a Room). No papel de Reality, Sydney Sweeney merecia estar na corrida dos Oscars.

2024 / 10 álbuns [1]

* WAXAHATCHEE, Tigers Blood

Com o nome artístico Waxahatchee — citando o Waxahatchee Creek, na zona do Alabama onde a cantora cresceu —, Kathryn Crutchfield continua a percorrer as vastas paisagens de uma herança folk temperada por um espírito indie que, no limite mais discreto, não recusa um certo sopro pop. Na canção Right Back to It, conta com a companhia de MJ Lenderman.

Sade / Transa

O título: Transa. Ou seja: "uma jornada espiritual celebrando as pessoas trans" — eis como se apresenta a magnífica nova colectânea da Red Hot Organization. São 46 canções envolvendo mais de uma centena de músicos. Esta é a contribuição de Sade: Young Lion, em teledisco de memórias muito pessoais, com realização de Sophie Muller.
 

sábado, dezembro 14, 2024

Um balanço do ano
* SOUND+VISION Magazine [FNAC — hoje, dia 14]

Não "o" balanço do ano, antes "um" balanço do ano. Ou seja, em vez de um top, propomos a (re)descoberta de algumas referências marcantes, não necessariamente as mais faladas (ou mais visíveis), que ficam das imagens e sons de 2024 — exemplo, na imagem: o filme Guerra Civil, de Alex Garland.

>>> FNAC Chiado — hoje, 14 dez (17h00).

Billie Eilish na NPR

[ billieeilishcom ]

De que falamos quando falamos de Billie Eilish? De uma verdade carnal que, nestes tempos de estúpido materialismo, se transfigura em coisa espiritual, afinal próxima das nossas sensações mais depuradas, e também mais secretas. Grande música, grandes canções, na fundamental companhia do irmão Finneas, e também Andrew Marshall (bateria), Solo Smith (baixo) e Abe Nouri (piano) — esta foi uma edição muito especial do Tiny Desk Concert, entrando directamente para a lista de memórias lendárias da NPR.
 

quinta-feira, dezembro 12, 2024

Later..., com St. Vincent

Digamos, para simplificar, que All Born Screaming é um dos grandes álbuns de 2024, garantindo-nos que podemos aguardar a morte do rock com optimismo. Em grande forma, Anne Clark continua a transfigurar em palco as suas canções, por assim dizer desafiando as suas próprias fronteiras.
Recentemente, esteve com Jools Holland, no programa Later... (BBC), recriando com metódico fulgor o tema Broken Man — eis St. Vincent!
 
Hey, what are you looking at?
Who the hell do you think I am?
And what are you looking at?
Like you never seen a broken man

terça-feira, dezembro 10, 2024

A IMAGEM: Hussein Malla, 2024

HUSSEIN MALLA
Palácio presidencial, Damasco [08 dezembro]
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"Era daqui que Assad nos observava",
Arthur Sarradin / Libération [09 dezembro]