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[Rebel without a Cause, 1955] |
Setenta anos depois da sua morte, James Dean continua a ser uma referência em que tudo se cruza, memória e simbologia, cinema e mitologia — este texto foi publicado na revista METROPOLIS (nº 122, setembro).
Há setenta anos — mais exactamente, no dia 30 de setembro de 1955 — James Dean morreu num acidente com o seu Porsche 550 Spyder, na zona de Cholame, uma pequena comunidade californiana — contava 24 anos. Na sua curta filmografia, além de uma série de papéis realmente secundários, três filmes bastaram para afirmar o seu talento invulgar e alimentar a sua aura lendária: A Leste do Paraíso, de Elia Kazan, Fúria de Viver, de Nicholas Ray, e O Gigante, de George Stevens.
No plano profissional, a brusquidão da sua morte impediu-o de conhecer a espectacular dimensão, não só do seu sucesso, mas também, e sobretudo, do seu impacto cultural e mitológico. Quando morreu, apenas A Leste do Paraíso, baseado no romance de John Steinbeck, tinha chegado às salas de cinema, a 9 de março de 1955. Fúria de Viver estreou-se menos de um mês depois do seu trágico acidente, a 27 de outubro, enquanto O Gigante surgiu quase um ano mais tarde, a 10 de outubro de 1956.
A sua herança é indissociável de uma genuína revolução formal que começou a acontecer no teatro, mais especificamente através do Actors Studio, esse verdadeiro “estúdio dos actores” fundado em 1947 por Elia Kazan, Cheryl Crawford e Robert Lewis — sem esquecer o papel fundamental que Lee Strasberg viria a desempenhar quando assumiu a respectiva direção.
Marlon Brando impôs-se, obviamente, como o primeiro e monumental símbolo do novo sistema de representação, o Método, enraizado nos ensinamentos do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) — Um Eléctrico Chamado Desejo (1951), de Kazan, pode mesmo ser definido como o título de “entrada” do Método na organização artística de Hollywood. Entre os nomes ligados a tal começo, e para lá de James Dean, encontramos, entre muitos outros, Montgomery Clift, Julie Harris (que integrou o elenco de A Leste do Paraíso), Kim Hunter (que contracenou com Brando em Um Eléctrico Chamado Desejo), Martin Landau, Karl Malden, Paul Newman, Shelley Winters e Joanne Woodward.
Com as interpretações de James Dean, intensificavam-se os sinais de uma juventude que já não reproduzia os padrões dos adultos, de alguma maneira ilustrando a máxima do título original de Fúria de Viver. Ou seja: Rebel Without a Cause. Somos, afinal, herdeiros desses rebeldes sem causa cujos sobressaltos vividos continham, directa ou simbolicamente, um prenúncio de morte. Ficou a solidão que poucos actores exprimiram com tamanha vibração emocional e comovente vulnerabilidade.