Libération, 29/30 junho 2024 |
I. O reconhecimento dos perigos anti-democráticos que assombram a actualidade do nosso pequeno planeta está a marcar a agenda de todas as forças políticas que, embora através de muitas diferenças, valorizam a palavra democracia.
II. Há boas razões para isso. Aliás, más razões: dos EUA (com eleições em novembro) à França (em processo eleitoral), esses perigos são muito reais e não podem deixar de mobilizar os que acreditam em formas de organização social em que a palavra liberdade rima com o factor humano — e a defesa da sua dignidade.
III. É um pormenor — ou talvez não... O certo é que muitas formas de pensamento e mobilização desse espaço empenhado em resistir às forças anti-humanistas continuam a exprimir-se através de formas visuais que têm tanto de ancestral como de simplista. Na sua incapacidade de condensar o social numa imagem com algum apelo sensorial, esta capa do jornal Libération é um sintoma claro de tal problema: os votos reduzidos a um amontoado abstracto + uma palavra de ordem construída a partir da identificação do inimigo. Dir-se-á que o político não se esgota no iconográfico, o que, bem entendido, é rigorosamente verdade. Resta saber se o facto de todos proclamarmos que vivemos num "mundo de imagens" envolve alguma método conciso de pensamento, ou não passa de um tique ideologicamente correcto.