A linguagem mais ou menos esotérica, discretamente lúdica, de alguma ficção científica poderá ajudar-nos a descrever o álbum que a banda universal de Alcobaça, The Gift, lançou em 2022: Coral é, de facto, um belíssimo ovni que nos leva a reconhecer (se é que andávamos distraídos) que a mais genuína alegria pop não implica qualquer tipo de resistência à convivência com matrizes tradicionalmente enraizadas noutros universos, a começar pela chamada música clássica, incluindo, claro, as suas eventuais componentes corais — afinal de contas, por alguma razão sentimos que Leonard Bernstein continua na vanguarda de tudo isto.
Coral resulta, assim, uma experiência sensorial que envolve um renovado pensamento sobre a nossa relação, ou melhor, as possibilidades da nossa relação com o universo multifacetado do espectáculo. Na verdade, mesmo que isso se insinue de modo subconsciente, Coral é um acontecimento que nos leva a repensar a condição partilhada de ouvintes e espectadores, abrindo a nossa percepção à fascinante pluralidade que a criação artística pode envolver.
Nesta perspectiva, Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, John Gonçalves e Miguel Ribeiro lembram-nos que o experimentalismo não é uma pose ostensiva de quem se julga o centro do mundo, mas um trabalho incessante de quem soube colocar a música no lugar central de uma deriva sempre disponível para um novo desafio — muitas vezes, 7 Vezes, pelo menos.