sábado, abril 09, 2022

O Tarzan de Johnny Weissmuller
celebra 90 anos

Maureen O'Sullivan e Johnny Weissmuller:
cartaz original de Tarzan, o Homem Macaco (1932)

Foi a 2 de abril de 1932 que ocorreu a estreia de Tarzan, o Homem Macaco, com o campeão de natação Johnny Weissmuller a interpretar o herói criado por Edgar Rice Burroughs — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 abril).

Foi há 110 anos, portanto em 1912, que surgiu, publicado em fascículos, Tarzan of the Apes, primeiro romance de Tarzan assinado por Edgar Rice Burroughs (1875-1950). Mas há um outro aniversário do “Homem Macaco” que importa assinalar. Assim, há 90 anos — mais precisamente, no dia 2 de abril de 1932 — estreava-se nas salas dos EUA o filme Tarzan, the Ape Man, realizado por W. S. Van Dyke, primeiro dos 12 títulos protagonizados por Johnny Weissmuller (1904-1984); o último, Tarzan and the Mermaids/Tarzan e as Sereias, foi lançado em 1948.
Estreado em Portugal como Tarzan, o Homem Macaco (cerca de um ano mais tarde), este é um filme que exemplifica bem a importância industrial, comercial e mitológica do conceito de aventura na produção de Hollywood do começo da década de 1930. Vivia-se, de facto, uma fundamental revolução tecnológica — a passagem do mudo para o sonoro —, pontuada por muitas inovações temáticas e formais. A mais óbvia dessas inovações foi, obviamente, o género musical — para nos ficarmos por um exemplo sintomático, lembremos que 1932 é também o ano de lançamento de Girl Crazy, com coreografia do lendário Busby Berkeley.
A mitologia da personagem de Tarzan no cinema têm as suas raízes, como é óbvio, na obra de Burroughs: através das dezenas de histórias que escreveu, o seu herói (humano, criado por macacos) simboliza de forma exuberante a tensão carnal e moral entre Natureza e Civilização. No cinema, tal energia mitológica não pode ser dissociada do próprio Weissmuller, figura eminentemente popular graças aos muitos recordes de natação que estabelecera ao longo da década de 1920: em várias edições dos Jogos Olímpicos, ganhou seis medalhas (cinco de ouro e uma de bronze), tendo sido o primeiro nadador a percorrer os 100 metros livres em menos de um minuto.
Johnny Weissmuller numa foto promocional de 1932

Maureen O’Sullivan (1911-1998), intérprete de Jane, companheira de Tarzan, é outra imagem essencial deste universo durante o “reinado” de Weissmuller (participou em seis dos seus filmes). Num certo sentido, talvez se possa dizer que estes foram filmes capazes de conciliar duas componentes espectaculares, essenciais para o arranque da “idade de ouro” de Hollywood: a sedução dos pares românticos e a sugestão de que o cinema podia encenar aventuras muito para lá da experiência do comum dos humanos, epopeias realmente maiores que a vida.
Foram filmes que, além do mais, consolidaram o respectivo estúdio produtor, Metro Goldwyn Mayer, como uma das entidades fortes no interior do sistema de Hollywood. A MGM produziu os primeiros seis títulos com Weissmuller, tendo depois a respectiva “franchise” passado para a RKO Pictures.
Com alguma ironia, podemos mesmo considerar que a evolução do conceito de “filme de aventuras” vai pontuando todas as eras do cinema através, precisamente, das histórias de Tarzan. Assim, desde Tarzan of the Apes, dirigido por Scott Sidney em 1918, o “Homem Macaco” começou por ser um herói da produção muda. Ao longo das décadas, Lex Barker, Gordon Scott ou Christopher Lambert foram exemplos de actores que ganharam alguma fama graças à interpretação da personagem de Tarzan. Sem esquecer, no campo da animação, as respectivas variações, com destaque para Tarzan (1999), com chancela dos estúdios Disney. Em boa verdade, mesmo com grande impacto nas bilheteiras, nenhum deles terá conquistado a dimensão lendária de Johnny Weissmuller.

>>> Dois trailers: Tarzan, o Homem Macaco (1932), com Johnny Weissmuller, e Tarzan, o Magnífico (1960), com Gordon Scott.
 



>>> Johnny Weissmuller numa prova de natação, em 1925 (imagens: British Pathé).