Presente na competição de Cannes, a segunda longa-metragem da francesa Julia Ducournau, Titane, segue as atribulações de uma jovem mulher (a certa altura ocultando-se numa identidade masculina) que devido a um acidente de infância tem uma placa de titânio na cabeça. De tal modo que toda a sua existência evolui, se assim nos podemos exprimir, entre a carne e o metal — a ponto de isso transfigurar o seu próprio destino materno.
Sob a tutela de Cronenberg, Ducouranu (autora de um primeiro filme intitulado Grave, 2016) é uma vidente cinematográfica dos nossos tempos de trágica reconversão material e simbólica dessa entidade a que chamamos corpo. Por vezes com um humor cortante — literalmente.