Há 30 anos, Na Cama com Madonna definia uma lógica de activa des-construção do próprio mito que se celebrava. Dito de outro modo: a Material Girl colocava-se em cena para, através de um intimismo in your face, instalar uma paradoxal e triunfante distância em relação ao espectador. Dir-se-ia que, com o teledisco de Lost Cause, do próximo álbum Happier Than Ever [30 julho], Billie Eilish conduz essa lógica a um ponto de assumida irrisão.
Apesar, ou melhor, através das suas abundantes sugestões eróticas, não se poderia imaginar encenação mais assexuada e, mesmo na sua auto-ironia, declaradamente triste — a canção, claro, volta a ser uma belíssima apoteose dessa tristeza, confirmando que Billie Eilish pertence a um campeonato de excelência que, não por acaso, continua a disputar em serena solidão.