O Festival da Canção [RTP] terminou com a vitória de Love Is on My Side, tema em inglês por The Black Mamba [video]. Ter-se-á, assim, esperemos que definitivamente, superado o velho preconceito nacionalista segundo o qual só há expressão "nacional" quando se canta em português...
Na verdade, com o espaço mediático saturado de referências à globalização em que vivemos, reconhecer que não há línguas "puras" ou "impuras" é um dado — de uma só vez cultural e simbólico — que, hoje em dia, de uma maneira ou de outra, importa integrar.
Algo de semelhante se poderá dizer a propósito das diversas figuras homenageadas durante o espectáculo: José Afonso, José Mário Branco e Carlos do Carmo.
Não há, de facto, música portuguesa "séria" (para ser ouvida em momentos de obrigatória gravidade) que se deva opor à música portuguesa "ligeira" (adequada a contextos de obrigatória frivolidade). Há música — ponto final. Suscitando juízos de valor diferentes, por vezes francamente desencontrados? Sim, sem dúvida. Qual é o problema?
Neste domínio — como, por exemplo, no espaço específico do cinema português —, importa relembrar o mais elementar. A saber: não se trata de escolher, muito menos promover, uma "tendência" contra outra, na certeza de que a homogeneidade de gostos e ideias é sempre redutora, para não dizer suspeita. Trata-se, isso sim, de criar condições que favoreçam a maior abertura possível para o trabalho de todos, seja qual for o seu domínio de expressão. Nesta perspectiva, o Festival da RTP relançou, implicitamente, uma reflexão sobre a pluralidade que só pode enriquecer o espaço televisivo.