sexta-feira, novembro 06, 2020

Biden / Trump

@lopes_jjlrl

Trump contra Biden? Biden contra Trump? O esquematismo é inevitável — afinal de contas, cada voto conta mesmo e não há eleição democrática que possa prescindir da contagem de todos os votos.
Dito isto, é inevitável reconhecer que a clivagem protagonizada por Joe Biden e Donald Trump nunca seria (ou será) superada pelo resultado das eleições presidenciais americanas de 3 de Novembro de 2020. Em boa verdade, o seu confronto existe também como uma reconfiguração social e ideológica dessa clivagem, relançando a América no ancestral confronto com as glórias, os traumas e os impensados da sua identidade.
Daí também o impacto realmente global do que está a acontecer, reforçando a frase irónica, mas concisa, de Eduardo Lourenço: "... somos todos americanos." Mesmo na sofisticada dimensão de espectáculo que a política pode envolver [CNN], talvez sobretudo através dessa dimensão, vivemos com os americanos, através dos americanos, através da distância a partir da qual os contemplamos, uma narrativa que envolve também o suspense da nossa identidade.
Talvez haja outra maneira de dizer isto, para lá do jogo de vitória/derrota protagonizado por Biden/Trump: através destas eleições, depois destas eleições, América e Europa serão confrontadas com o desafio radical de repensar as suas relações. Radical, porque pedagógico.