quinta-feira, julho 02, 2020

"A Última Sessão", de Peter Bogdanovich
— memórias de um clássico

Os filmes estão de volta à Cinemateca Portuguesa, incluindo as já tradicionais “sessões na esplanada”. No dia 1, foi possível ver ou rever A Última Sessão, de Peter Bogdanovich, um clássico da década de 1970 em Hollywood — este texto assinalou, no próprio dia, no Diário de Notícias, a reabertura da sala da rua Barata Salgueiro.

Também a Cinemateca Portuguesa está a relançar as suas actividades de exibição. E, com todas as medidas de segurança que a situação impõe, não abdicando das já tradicionais projecções de Verão ao ar livre (“sessões na esplanada”), no pátio interior do edifício da rua Barata Salgueiro, em Lisboa.
Assim, ao longo do mês de Julho, vai ser possível ver ou rever títulos clássicos de cineastas como Alfred Hitchcock, Fritz Lang ou Stanley Kubrick. A primeira sessão, agendada para hoje, às 22h00, envolve uma calculada e deliciosa ironia. Isto porque o filme que inaugura a programação de Julho se intitula A Última Sessão (no original: The Last Picture Show). É uma daquelas preciosidades da produção americana que, infelizmente, nem sempre está presente nas memórias da atribulada e fascinante década cinematográfica de 1970.
A assinatura pertence a Peter Bogdanovich, personalidade fundamental, inclusive como crítico de cinema, da geração dos “movie brats” (Coppola, Scorsese, De Palma, etc.), também ele nem sempre devidamente conhecido e reconhecido. Foi em 1971 que Bogdanovich dirigiu esta adaptação do romance de Larry McMurtry, uma visão tão metódica quanto desencantada de uma pequena cidade do estado do Texas — corria o ano de 1951 e alguns dos rapazes estavam para partir a caminho da guerra da Coreia…


Deparamos, assim, com uma teia dramática em que a descoberta da sexualidade se cruza com a ansiedade gerada pelo serviço militar, tudo isso pontuado pelas delícias do mais depurado espírito cinéfilo. Na verdade, o título remete, justamente, para essa “última sessão” que vai ter lugar na sala de cinema da cidade, antes do seu encerramento: é um dos sinais do decréscimo do número de habitantes, vivido como um verdadeiro ritual de despedida.
O filme exibido nessa derradeira projecção é um clássico do “western”, na altura uma novidade — Rio Vermelho (1948), de Howard Hawks, com John Wayne e Mongomery Clift —, e as suas imagens a preto e branco terão pesado de forma decisiva na opção visual de Bogdanovich, filmando também a preto e branco. Muito a propósito, Rio Vermelho surge na programação deste mês na Cinemateca, podendo ser visto nos dias 4 (19h00) e 21 (22h00, esplanada).
Para a história, A Última Sessão ficou também como símbolo exemplar de um certo espírito independente de produção, inerente à dinâmica de Hollywood naquela época (ainda que, neste caso, com chancela de distribuição de um grande estúdio: Columbia Pictures), além do mais revelando uma galeria de jovens e talentosos actores, incluindo Jeff Bridges, Cybill Shepherd e Timothy Bottons, contracenando com veteranos como Ellen Burstyn, Ben Johnson e Cloris Leachman — estes dois últimos arrebataram Oscars nas categorias secundárias de representação.

>>> The Last Picture Show — "making of".