Personalidade central na história da música portuguesa do último meio século, José Mário Branco faleceu na noite de 18 para 19 de Novembro, vítima de um acidente vascular cerebral — contava 77 anos.
A presença de José Mário Branco nos caminhos portugueses da música reflecte uma invulgar versatilidade criativa, desde os tempos de resistência ao Estado Novo através de um álbum tão emblemático como Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades (1971), até ao recente Sempre (2018), álbum de Katia Guerreiro por ele produzido.
Desde muito jovem envolvido na luta política, como militante do Partido Comunista Português, exilou-se em França em 1963, só regressando a Portugal no imediato pós-25 de Abril. Conjugando autores como Luís de Camões, Alexandre O’Neill, Natália Correia e Sérgio Godinho, Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades seria uma das bandeiras da canção de protesto anti-fascista, registo que se transfiguraria em novos modos de intervenção social e política em álbuns como A Mãe (1978), Ser Solidário (1982), A Noite (1985), Correspondências (1990) ou Resistir É Vencer (2004) — este seria o seu derradeiro álbum de originais.
Na condição de produtor, a sua trajectória artística cruzou-se, entre outros, com José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto Bordalo Dias, Carlos do Carmo e Camané. A colaboração com Camané, iniciada com Uma Noite de Fados (1995), é normalmente apontada como um momento decisivo de reconversão da estética clássica de encenação musical do fado. Em 2014, a sua vida e obra foi tema de Mudar de Vida (2014), documentário da autoria de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo.
>>> Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades + Ser Solidário + Dueto com Katia Guerreiro (Quem Diria).
>>> Obituário no Diário de Notícias.
>>> Emissão especial na Antena 1 [19-11-2019].