sábado, novembro 23, 2019

Jean Douchet (1929 - 2019)

Crítico de cinema, historiador, realizador, a sua personalidade é indissociável da história, da imaginação e do imaginário da Nova Vaga francesa: Jean Douchet faleceu no dia 22 de Novembro — contava 90 anos.
O obituário do jornal Le Monde chama-lhe "o último moicano de um período lendário da crítica de cinema". A designação não tem nada de pomposo nem peca por excesso de simbolismo; resume mesmo, com sugestiva precisão, o papel de Douchet como compagnon de route de Jean-Luc Godard, François Truffaut & etc., cruzando o gosto da análise crítica com o labor específico do cinema. Participou mesmo num "filme-bandeira" da Nova Vaga, Paris Visto por... (1965), assinando um dos seus seis sketches. Por essa altura, está ligado aos Cahiers du Cinéma, participando das convulsões teóricas e práticas de uma época de profunda interrogação do cinema e da sua relação com o mundo — recentemente, numa reedição com chancela da própria revista, ressurgiu L'Art d'aimer, antologia dos principais textos de Douchet para os Cahiers du Cinéma e a revista Arts.


Foi professor do IDHEC e, mais tarde, da escola que o integrou, La Fémis. A sua elaborada e elegante arte de exposição, combinando a contextualização histórica com a especulação analítica, ficou célebre através de muitas sessões públicas regulares, nomeadamente na Cinemateca Francesa (onde existe um cineclube com o seu nome) e na sala de cinema Le Panthéon, em Paris. Como realizador, assinou uma série de trabalhos sobre cineastas e diversas temáticas fílmicas, com destaque para Godard plus Godard (1985) e Eric Rohmer, preuves à l'appui (1994), este para a série "Cinéastes de notre temps".
Insolitamente, ou talvez não, cumpriu uma carreira de actor, surgindo em mais de duas dezenas de títulos, incluindo La Maman et la Putain (1973), de Jean Eustache, Céline et Julie Vont en Bateau (1974), de Jacques Rivette, e A Comédia de Deus (1995), de João César Monteiro. Na sua vasta bibliografia, encontramos um estudo sobre Alfred Hitchcock (1967), La Modernité cinématographique en question (1992) e Le Théâtre dans le cinéma (1993). Em 2011, Thierry Jousse dedicou-lhe o documentário Jean Douchet ou l'art d'aimer.


>>> 1968: diálogo Eric Rohmer/Jean Douchet sobre a obra de Jean Renoir.


>>> Trailer do documentário Jean Douchet, l'enfant agité (2017), de Vincent Haasser, Fabien Hagege e Guillaume Namur.


>>> Obituário em Les Inrockuptibles.