sábado, agosto 17, 2019

Peter Fonda (1940 - 2019)

A sua imagem em Easy Rider há muito transcendeu as peripécias de um filme, pertencendo por direito próprio à iconografia do século XX: o actor americano Peter Fonda faleceu no dia 16 de Agosto, na sua casa de Los Angeles, devido a dificuldades respiratórias provocadas por cancro no pulmão — contava 79 anos.
Num certo sentido, Peter Fonda viveu artisticamente "bloqueado" pelo fulgor do seu próprio clã familiar: o pai, Henry Fonda (1905-1982), impôs-se como um dos símbolos mais fortes do mais depurado classicismo, enquanto a irmã, Jane Fonda (n. 1937), se tornou uma das grandes referências de Hollywood e da sua moderna transfiguração, em especial a partir do primeiro dos seus dois Oscars, ganho com Klute (1972). Nada disso diminui as qualidades das suas proezas, mas é um facto que foi ele próprio a reconhecer tal "secundarização", na autobiografia Don't Tell Dad (="Não contem ao Papá"), publicada em 1998.
Para lá da presença emblemática em Easy Rider, de Dennis Hopper, um dos títulos fulcrais no encerramento simbólico da história e das ilusões dos sixties, importa lembrar que Fonda foi também um dos produtores do filme (rodado com um orçamento minimalista), abrindo caminho para novos entendimentos da independência criativa. O mesmo se poderá dizer do belíssimo The Hired Hand/O Regresso (1971), por ele protagonizado e realizado, título exemplar da reconversão crítica do "western" ao longo dos anos 60/70, explorando um impossível romantismo exemplarmente condensado no prodigioso trabalho de direcção fotográfica assinado por Vilmos Zsigmond.


Por um lado, a sua filmografia é imensa (mais de uma centena de títulos, incluindo as produções televisivas); por outro lado, grande parte do seu trabalho pertence a filmes que foram ilustrando a penosa decomposição dos géneros clássicos, sobretudo ao longo das décadas de 80/90. Em qualquer caso, o simbolismo da sua imagem seria mais tarde reconhecido (e integrado) por cineastas como John Carpenter e Steven Soderbergh que o convidaram para participar, respectivamente, em Fuga de Los Angeles (1996) e O Falcão Inglês (1999). A não esquecer: o nome de Peter Fonda está na ficha artística do mais belo filme do mundo: Lilith (1964), de Robert Rossen — ei-lo, contracenando com Jean Seberg e Warren Beatty.


>>> Obituário no Los Angeles Times.
>>> Site oficial de Peter Fonda.