quinta-feira, agosto 22, 2019

Donna Tartt — do livro ao filme

The Goldfinch (2013), de Donna Tartt, é um daqueles livros que transcende, tende mesmo a ridicularizar, qualquer "resumo" que dele possamos tentar [edição portuguesa: O Pintassilgo, Editorial Presença].
Claro que podemos arriscar uma sinopse em registo mais ou menos policial: Theodore Decker, adolescente de Nova Iorque, sobrevive a um acto terrorista no Metropolitan Museum; por um lado, a sua mãe morre; por outro lado, no momento da tragédia, ele está a contemplar um pequeno quadro, uma obra-prima da pintura holandesa — 'O Pintassilgo', de Carel Fabritius (1622-1654) — que irá assombrar toda a sua existência...
As oito centenas de páginas que se seguem estão muito para além da história do acidentado trajecto do fascinante quadro de Fabritius. Ou melhor: através desse trajecto, assistimos à lancinante exposição da aventura de Theodore, perdido e achado, na procura de estabilizar uma identidade que, em boa verdade, talvez só possa existir como incessante demanda da verdade e da beleza.
Nos mais diversos momentos públicos, Donna Tartt sempre deu conta do seu fascínio pela escrita de Charles Dickens (1812-1870), pela sua capacidade de lidar com o labirinto humano, sem o padronizar, respeitando-o em todas as suas maravilhas, fantasmas e contradições. E não é caso para menos: The Goldfinch é o mais "dickensiano" dos romances e, por certo, uma das obras-primas da literatura do século XXI.
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Como "transpor" um livro destes para cinema? Diria que é uma sedutora e ciclópica tarefa, porventura impossível de consumar... O certo é que o filme está pronto, com realização de John Crowley e Ansel Elgort a interpretar a personagem de Theodore. Terá a sua estreia mundial a 5 de Setembro, no Festival de Toronto, começando depois a surgir nos mercados internacionais [Portugal: 12 Setembro]. Eis o trailer.