quinta-feira, janeiro 24, 2019

Jonas Mekas (1922 - 2019)

À medida que avançava, ocasionalmente entrevi breves lampejos de beleza: é o título de um dos mais emblemáticos filmes de Jonas Mekas, datado de 2000, e pode ser tomado também como lema das deambulações do seu olhar documental, prospectivo e poético — o cineasta americano, de origem lituana, faleceu no dia 23 de Janeiro, em Nova Iorque, contava 96 anos.


Nascido na aldeia de Semeniškiai, na Lituânia, a 24 de Dezembro de 1922, Jonas Mekas deixou o seu país em 1944, na companhia do irmão Adolfas Mekas (1925-2011), tentando escapar às convulsões da guerra. Capturados pelos nazis, foram levados para um campo de trabalhos forçados de onde conseguiram fugir ao fim de oito meses. Depois da guerra, estudou filosofia na Universidade de Mainz; em 1949, os dois irmãos atravessaram o oceano, instalando-se em Nova Iorque.
O seu envolvimento com o cinema começou com o gosto de registar o quotidiano em estado nascente, a par de uma importante actividade como crítico, primeiro na revista Film Culture, que fundou, com o irmão, em 1954 (encerrou em 1996, depois de 79 publicações), depois como colunista de The Village Voice. Em 1962, ao lado de personalidades da vanguarda cinematográfica como Shirley Clarke, Gregory Markopoulos ou Stan Brakhage, foi um dos fundadores de The Film-Makers' Cooperative, também conhecida como The New American Cinema Group, entidade prioritariamente empenhada na divulgação de produções independentes e experimentais; a sua evolução conduziu à formação dos Anthology Film Archives, vocacionados para a preservação e divulgação das vanguardas cinematográficas.


Filmes como Walden (1969), Reminiscences of a Journey to Lithuania (1972) ou Lost, Lost, Lost (1975) são exemplares do seu "estilo" de registo documental, contaminado pelas mais variadas impressões subjectivas — Mekas assumia o trabalho cinematográfico como uma relação permanente com o mundo à sua volta, das emoções do espaço privado às grandes convulsões sociais e políticas. Nessa medida, a sua obra é das mais poderosas e influentes na área documental, afinal discutindo sempre os métodos e limites do género documental e, muito em particular, a mútua contaminação narrativa de dados objectivos e componentes subjectivas.
Tinha por hábito levar sempre uma câmara consigo, tirando especial partido dos equipamentos ligeiros (sobretudo de 16 mm) vulgarizados ao longo da década de 60 e, mais tarde, dos recursos videográficos e digitais. Daí que, sobretudo nos últimos anos, vários dos seus filmes sejam montagens de reminiscências acumuladas ao longo de várias décadas. Um dos seus derradeiros trabalhos intitula-se mesmo Out-Takes from the Life of a Happy Man (2012).
A herança de Mekas está preservada no Jonas Mekas Visual Arts Center, em Vilnius, capital da Lituânia. A sua vida e obra foi tratada pelo cineasta alemão Peter Sempel, através da trilogia Jonas in the Desert (1991), Jonas at the Ocean (2004) e Jonas in the Jungle (2013).

>>> 'Web of Stories': Jonas Mekas recorda a fundação de Film Culture.

>>> Primeira actuação pública de The Velvet Underground, em 1964 (extracto de Walden).

>>> Extracto de Reminiscences of a Journey to Lithuania.

>>> Filme: A Walk (1990), 58 min.

>>> The Story of Jonas Mekas (Louisiana Channel, 2015).

>>> Site oficial de Jonas Mekas.
>>> Jonas Mekas no Senses of Cinema.

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As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (2000)