domingo, outubro 14, 2018

Assim (re)nasce uma estrela

A história do filme de (e com) Bradley Cooper, Assim Nasce uma Estrela, desenha um caminho de cumplicidades dramáticas com o passado de Hollywood, mais concretamente, com as três versões anteriores da mesma história; a personagem de Lady Gaga, em particular, é uma herdeira directa do trabalho de Janet Gaynor, Judy Garland e Barbra Streisand — eis uma breve memória dos anteriores A Star Is Born, de um artigo publicado no Diário de Notícias (11 Outubro).


* NASCEU UMA ESTRELA (1937) — Com produção de David O. Selznick (que, por esta altura, já trabalhava no projecto de E Tudo o Vento Levou, a ser lançado em 1939) e realização de William A. Wellman, este é um projecto pioneiro na consagração comercial das imagens em Technicolor — valeu a W. Howard Greene um Oscar honorário pelo seu contributo como director de fotografia e foi mesmo promovido como “o primeiro filme em Technicolor” da actriz Janet Gaynor. Contracenando com Fredrich March, ela encarna os sonhos, ilusões e desilusões de uma ascensão fulgurante: era Hollywood a ver-se ao espelho, com ternura e crueldade.


* ASSIM NASCE UMA ESTRELA (1954) — Uma das obras-primas da produção de Hollywood ao longo da década de 50, assinada por um dos mestres absolutos da arte do melodrama: George Cukor. Com Judy Garland e James Mason, a história da actriz em ascensão e do seu mentor alcoólico adquire, definitivamente, a dimensão de uma tragédia sobre o amor e a sua infinita vulnerabilidade. Foi também um dos primeiros títulos a saber utilizar com admirável elegância os recursos do novo “formato largo” (CinemaScope) que tinha chegado às salas em filmes de 1953.


* NASCE UMA ESTRELA (1976) — Realizada por Frank Pierson, foi esta versão que serviu de inspiração directa ao argumento do novo filme de Bradley Cooper. Os cenários já não são de Hollywood, mas sim do mundo da música rock, com um veterano algo decadente a apaixonar-se por uma cantora em ascensão. Barbra Streisand e Kris Kristofferson interpretam o par central, ambos em momentos altos das respectivas carreiras. Para Streisand, em particular, tratava-se de uma nova via musical, bem diferente da que a impusera no cinema, através de Funny Girl (1968) e Hello, Dolly! (1969).