sábado, agosto 04, 2018

Tom Cruise ou a arte do impossível

Aí está outra vez Missão Impossível, sexta edição e ao nível do título fundador, realizado em 1996 por Brian de Palma — este texto é uma parte de um artigo publicado no Diário de Notícias (30 Julho), com o título 'Tom Cruise volta a salvar o planeta'.

O novo Missão Impossível: Fallout é um genuíno espectáculo. Genuíno, convém sublinhar, já que nestes últimos anos a imposição dos modelos dos estúdios Marvel (quase) só tem gerado filmes repetitivos, sem imaginação, encerrados em clichés de super-heróis, confundindo a emoção com a multiplicação de explosões e ruído, muito ruído...
Enfim, não simplifiquemos: Missão Impossível: Fallout, dirigido por Christopher McQuarrie (que já assinara o anterior Missão Impossível: Nação Secreta), não acontece em atmosfera de recolhimento espiritual. Nada disso: desde uma vertiginosa perseguição pelas ruas mais estreitas de Paris até um delirante duelo coreografado entre dois helicópteros, estamos perante um objecto de cinema que faz apelo aos mais sofisticados recursos técnicos. Tão sofisticados e complexos que, por certo, para além do cachet de Tom Cruise (e da sua percentagem enquanto produtor), ajudam a explicar os 178 milhões de dólares de orçamento (contas redondas: 150 milhões de euros).
Acontece que não é secundário o facto de se ter Tom Cruise (56 anos, completados a 3 de Julho) e não um qualquer actor, muito ou pouco talentoso, que se perca nos adornos digitais que se sobrepõem ao seu corpo. Para além de executar muitas das cenas de acção (a ponto de ter tido um acidente que obrigou à interrupção da rodagem durante nove semanas), Cruise é um intérprete que insiste em preservar a verdade física da história que está a ser contada, nessa medida valorizando a dimensão humana das personagens, mesmo nas situações mais surreais — veja-se as condições de rodagem de um espantoso salto de páraquedas.


Por uma vez, o mercado podia ter arriscado na tradução do título original, optando por não utilizar a palavra “fallout”, mas sim a expressão “chuva radioactiva” (aliás, totalmente justificada pelas peripécias do filme). Seja como for, todos os fantasmas de destruição do nosso querido planeta perpassam pelo filme e não estaremos a revelar a sua intriga se dissermos que Cruise tem meios para lidar com os muitos imbróglios que lhe aparecem. Com uma elegância sedutora e (não digam a ninguém) plena de nostalgia cinéfila.