Grande senhora do teatro e do cinema, a actriz Laura Soveral faleceu no dia 12 de Julho, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vítima de esclerose lateral amiotrófica — contava 85 anos.
Nascida em Angola, foi em Lisboa, no Grupo Fernando Pessoa, dirigido por João d'Ávila, que iniciou a sua carreira, ao mesmo tempo que frequentava a Escola de Teatro do Conservatório Nacional. Estrada da Vida (1968), de Henrique Campos, seria a sua revelação no cinema, valendo-lhe um prémio de representação atribuído pelo SNI e outro pela Casa da Imprensa (Prémio Bordalo). Em Uma Abelha na Chuva (1972), adaptação do romance de Carlos de Oliveira por Fernando Lopes, obra nuclear na história do cinema português, teve um dos momentos mais importantes de todo o seu trabalho — compunha uma extraordinária D. Maria dos Prazeres que, face a Álvaro Silvestre (João Guedes), vive a odisseia íntima e silenciosa de uma mulher condenada a forjar a sua identidade num universo que, em última instância, não reconhece a sua singularidade.
>>> Cena de Uma Abelha na Chuva.
Numa postura que sabia equilibrar o sentimento trágico e a contenção emocional, foi uma presença regular no teatro, tendo trabalhado, entre outros, nos palcos do D. Maria II, São Luiz, Cornucópia, Teatro da Comuna e Teatro Aberto. Manteve também um actividade regular em televisão. Oxalá (António-Pedro Vasconcelos, 1980), Francisca (Manoel de Oliveira, 1981), Três Irmãos (Teresa Villaverde, 1984), Alice (Marco Martins, 2005) e Tabu (Miguel Gomes, 2012) são alguns dos títulos de uma filmografia invulgarmente longa e versátil no contexto português.
Laura Soveral doou o seu corpo à ciência, não se realizando, por isso, cerimónias fúnebres.
>>> Trailer de Tabu.
>>> Obituário no Diário de Notícias.