sábado, julho 21, 2018

Bach, isto é, jazz

Não é impunemente que se escreve: After Bach. Ou seja: de acordo com Bach, mas também depois de Bach. Brad Mehldau coloca-se na posição, por certo ambivalente e festiva, numa palavra, desafiante, de quem reconhece uma inspiração, respeitando-a e integrando-a, mas também superando qualquer hipótese de cópia ou imitação.
Por certo um dos álbuns maiores de 2018, After Bach poderá ser definido como uma reapropriação centrada e, de algum modo, potenciada por um mesmo gosto. Entenda-se: não é o músico de jazz que traz o seu programa de improvisação para "recriar" Bach. Isto porque, como recorda Timo Andres no texto de apresentação do álbum, o impulso improvisador — e a sua prática, hélas! — já está todo ele contido em Bach. Digamos que Mehldau é "apenas" um discípulo que nasceu em 1970, 220 depois da morte de Bach.
Trata-se, então, de revisitar quatro prelúdios e uma fuga de O Cravo Bem Temperado, "interrompendo-os" com diversas composições do próprio Mehldau, de acordo com Bach, depois de Bach, reencontrando a liberdade original de... Bach. Ou ainda, de novo citando Andres: "Tocar Bach é necessariamente ser capaz de manipular e reconciliar pensamentos díspares, sustentar em simultâneo opiniões contraditórias. Num mundo cada vez mais polarizado e compartimentado, estudar Bach é uma tentativa para ver algo de todos os ângulos, de todas as posições possíveis."

>>> After Bach: Rondo [audio], faixa nº 3 do álbum + concerto 'Three Pieces after Bach' na Cité de la Musique, Paris (02-04-18).