1. Em matéria de dinâmica cultural, o cliché dominante — amplamente sustentado pelos partidos políticos, direitas e esquerdas confundidas — esgota-se num piedoso voluntarismo. A saber: essa dinâmica resultaria apenas da acção de acontecimentos específicos e circuitos especializados. Tal cliché é incapaz, por exemplo, de pensar uma evidência (com mais de 40 anos...) do contexto português: como discutir os problemas culturais e financeiros (é a mesma coisa) do cinema português omitindo qualquer referência ao poder normativo das telenovelas?
2. A evocação de tais questões vem a propósito deste curioso e desconcertante testemunho cultural. Assim, através da principal chamada de capa do jornal Destak, ficamos a saber que um conjunto de obras de Roy Lichtenstein (1923-1997), figura emblemática da Pop Art, está disponível no Centro Comercial Colombo (até 23 de Setembro).
3. Sinais destes tempos de muitos cruzamentos: um artista consagrado pelos compêndios culturais está exposto num centro comercial. Mais do que isso: o acontecimento surge divulgado, não através de uma qualquer publicação ou circuito "especializado", mas sim nas páginas de um jornal gratuito. Evitemos, por isso, a facilidade televisiva dos "prós" e "contras" (ou, como no futebol, a procura de um "culpado" para cada golo marcado). Digamos apenas que o mundo em que vivemos é feito destas contaminações — e também que é legítimo supormos que Lichtenstein seria o último a queixar-se.
>>> Site oficial da Fundação Roy Lichtenstein.