"Eu não vejo televisão" — eis uma afirmação corrente que importa discutir. Eduardo Cintra Torres parte dessas palavras supostamente evidentes para mostrar e demonstrar como, através delas e, sobretudo, para além delas, podemos aceder a um universo multifacetado em que, em última instância, se discute a nossa própria condição de espectadores. Com componentes que passam por questões tão marcantes, e também tão universais, como:
— as novas condições de consumo dos conteúdos televisivos (Internet, boxes, etc.), já não dependentes da obrigação de seguir as emissões em directo;
— a própria fragilização do conceito de "canais generalistas";
— a permanente e multifacetada contaminação de muitas formas de ficção, não poucas vezes relativizando a "distância" entre televisão e cinema.
Na sua brevidade, Televisão do século XXI (Universidade Católica Editora) propõe uma síntese tão incisiva quanto pedagógica sobre aquilo que é, hoje em dia, o audiovisual. Porventura levando-nos a reconhecer que a própria palavra "audiovisual" se tornou inadequada — ou, pelo menos, insuficiente — para lidarmos com as paisagens imensas, tão globais quanto particulares, tão presentes quanto futuristas, de imagens e sons.