[DN, 24-05-18]
Ao realizar La Chinoise, poucos meses antes das convulsões laborais e sociais de Maio de 68, Jean-Luc Godard conseguia, de facto, um prodigioso objecto premonitório (aliás, a par de Fim de Semana, outro filme admirável, atento às clivagens da sociedade francesa da época). Ao realizar Godard, o Temível, evocando tal contexto, Michel Hazanavicius parece achar-se com autoridade (em nome de quê?) para transformar tudo e todos em caricatura superficial e chocarreira.
O resultado é um filme que, além de simplificar de forma irresponsável os tempos da Nova Vaga francesa, trata Godard em função dos clichés do “intelectual” e do “arrogante”. Poderia ser um ensaio (legítimo, sem dúvida) sobre um autor em que Hazanavicius não se reconhece — o certo é que nunca ultrapassa a condição de provocação superficial e gratuita.