A propósito da actual discussão sobre o Facebook e a sua gestão (ou falta dela) dos dados dos respectivos utilizadores, há qualquer coisa de patético em muitos alarmismos mediáticos com que temos sido bombardeados a propósito dos poderes da rede dita "social" — na BBC, por exemplo, podemos mesmo ver um breve video, contundente e inquietante, sobre "aquilo que o gigante das redes sociais sabe sobre você."
Onde estavam os vigilantes da nossa privacidade quando, em 2004, Mark Zuckerberg criou um cândido serviço de partilha de dados pessoais?... E, em 2012, onde estavam os especialistas do apocalipse virtual para contrariar a vaga de gozo e difamação que se abateu sobre o filme A Rede Social, de David Fincher?... Provavelmente, dedicavam-se a esse velho desporto que consiste em minimizar e, mais do que isso, ridicularizar tudo o que venha de Hollywood (ao mesmo tempo que celebram os milhões gastos ou ganhos com um qualquer "blockbuster" de quinta ordem).
Onde estavam os vigilantes da nossa privacidade quando, em 2004, Mark Zuckerberg criou um cândido serviço de partilha de dados pessoais?... E, em 2012, onde estavam os especialistas do apocalipse virtual para contrariar a vaga de gozo e difamação que se abateu sobre o filme A Rede Social, de David Fincher?... Provavelmente, dedicavam-se a esse velho desporto que consiste em minimizar e, mais do que isso, ridicularizar tudo o que venha de Hollywood (ao mesmo tempo que celebram os milhões gastos ou ganhos com um qualquer "blockbuster" de quinta ordem).
Ainda e sempre, não se trata de demonizar o Facebook, como não se trata de escarnecer do automóvel — afinal de contas, o equilíbrio ecológico do nosso planeta tornou-se um drama de todos os dias, mas não parece possível renegar a riqueza e complexidade de mais de um século de história vivido com veículos poluentes, movidos a petróleo e seus derivados.
Trata-se tão só, para já, de contrariar a perspectiva tecnocrática — também política, sem dúvida — segundo a qual se está apenas a viver um percalço técnico. Importa exigir um pouco mais de todos nós e perguntar de onde vem — e, sobretudo, para onde vai — esta cultura virtual que leva milhões de pessoas a tratar muitos dados da sua identidade (social, familiar, muitas vezes íntima) como coisa partilhável com uma empresa gerada na perspectiva de angariar gigantescas receitas publicitárias.
Se não soubermos formular tal questão, então devemos concluir que aquilo que oferecemos ao Facebook envolve o nosso próprio conceito de humanidade.