quinta-feira, fevereiro 01, 2018

100 FILMES
que não aparecem nas listas (1)

As listas canónicas de cinema habituaram-nos a enunciar uma velha dicotomia: Citizen Kane (1941) ou Vertigo (1958), qual devemos colocar em nº 1? No simplismo de tal competitividade, quase nos esquecemos que esses são dois objectos de tal modo prodigiosos que, de facto, muito mais do que qualquer questão de ordenamento, o mais interessante seria discutir... os filmes. Vale a pena, por isso, lembrar que há mais vida — entenda-se: mais cinema — para além dos cânones. E que, por isso mesmo, podemos inventar uma lista de obras importantíssimas que, mesmo quando são célebres, tendem a ficar fora das listas "obrigatórias" — uma centena, mas talvez pudessem ser duas, ou três...

* JEANNE D'ARC (1900), de Georges Méliès

O mito fundador do cinema é bipolar: os filmes teriam nascido no cruzamento do olhar "documental" com o apelo "fantasista". Ou ainda: os irmãos Lumière de um lado, Georges Méliès do outro. O mito é sugestivo, mas historicamente pouco preciso. No caso de Méliès, o seu lendário gosto pela manipulação das imagens, isto é, a dimensão de ilusionista (profissão que, de facto, exerceu) acaba por ser escasso para definir a sua pluralidade criativa. O exemplo de Jeanne d'Arc coloca-o mesmo numa paisagem híbrida em que aquela manipulação, incluindo as magníficas tintagens, não exclui um elaborado desejo teatral de encenação das grandes referências históricas. Eis o filme de 1900, com uma banda sonora composta, em 2016, pela argentina Lucía Caruso e o português Pedro Henriques da Silva, para o ensemble Manhattan Camerata.