domingo, novembro 19, 2017

Charlotte Gainsbourg, opus 5

O apelido pesa na démarche de Charlotte? Claro que sim. Mas não de acordo com a noção, afinal simplista, de que "filho(a) de peixe sabe nadar". A filha de Serge Gainsbourg e Jane Birkin soube construir um edifício musical, por certo não estranho ao misto de versatilidade e auto-ironia da respectiva herança, mas preservando sempre a singularidade de uma voz (no sentido vocal, mas também simbólico) que não abdica da ligeireza contraditória da pop.
Já conhecíamos a canção-título de Rest, quinto álbum de Charlotte Gainsbourg. O seu teledisco era, aliás, um sedutor jogo de espelhos, oscilando entre a contemplação e a irrisão que a dimensão humana pode conter. Algo de semelhante se poderá dizer a propósito desta encenação de Ring-a-ring o' roses, canção em ziguezague entre francês e inglês, evocando a verdade perdida de um amor original, em contraponto com o ritmo peculiar de uma canção infantil [nursery rhyme] — tão perto do medo da morte, tão simples como o instante de uma carícia.

Premier appel
Originel
Premier baiser
Purement maternelle
Première foulée
Effort enragé
Première ivresse
Rêve de déesse

Ring-a-ring o' roses
Pocketful of posies
We all fall down
Round and round in circle
Waiting for a miracle
Kiss the crowd
Ring-a-ring o' roses
Pocketful of posies
We all fall down
Round and round in circle
Waiting for a miracle
Kiss the crowd

Premier amour
Je jure solennel
Premiers ébats
Va au septième ciel
Premier chagrin,
Premier coup de poing
Première affaire
Premier salaire

Ring-a-ring o' roses
[...]

Premier enfant
Monstre bruyant
Premier cheveu blanc
Crâne le temps
Premier pépin
Début de la fin
Dernier soupir
Qu'il soit de plaisir

Ring-a-ring o' roses
[...]