segunda-feira, agosto 21, 2017

A guerra segundo Hollywood (1/8)

O sucesso de Dunkirk relançou muitas memórias cinematográficas da guerra e, mais especificamente, do segundo conflito mundial: esta breve antologia de memórias foi publicada no Diário de Notícias (20 Agosto), sob o título genérico 'Como Hollywood tem visto a Segunda Guerra Mundial'.

O impacto artístico e comercial de Dunkirk, o filme de Christopher Nolan (sobre a dramática retirada de mais de 300 mil soldados britânicos ameaçados pela aviação alemã, em Maio/Junho de 1940), veio relançar as memórias da Segunda Guerra Mundial segundo Hollywood. Claro que o “filme de guerra” tem capítulos fundamentais nas mais diversas cinematografias (a começar pela Itália do neo-realismo, França, Rússia, Japão, etc.). O certo é que, desde o romantismo de Casablanca (1942), de Michael Curtiz, à vertigem surreal de Sacanas sem Lei (2009), de Quentin Tarantino, passando pelo intimismo trágico de O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Steven Spielberg, várias gerações de espectadores têm conhecido a vitória dos aliados sobre os nazis sobretudo através de produções provenientes dos estúdios americanos.
As variações são imensas, claro. Há mesmo o caso “teatral” de Lifeboat/Um Barco e Nove Destinos (1944), em que Alfred Hitchcock se concentra na odisseia de um grupo de sobreviventes à deriva numa pequena embarcação. E há até comédias delirantes, à maneira do burlesco do cinema mudo, como Onde Fica a Guerra? (1970), de e com o muito esquecido Jerry Lewis.
E convém não escamotear o paradoxo comercial de tudo isto. Assim, é verdade que as estatísticas registam grandes sucessos de títulos do género, a começar por O Resgate do Soldado Ryan. Mas importa relativizar: para nos ficarmos por outro exemplo da filmografia de Spielberg, lembremos que ele conseguiu quase o triplo de receitas com o seu Parque Jurássico (1993).
Uma coisa é certa: no imaginário cinéfilo, a Segunda Guerra Mundial é um tema revisitado por todas as gerações de cineastas, de alguma maneira criando novas narrativas. Nos últimos anos, Ponte de Espiões (2015) de Steven Spielberg, e O Herói de Hacksaw Ridge (2016), de Mel Gibson, conseguiram mesmo chegar à nomeação para o Oscar de melhor filme do ano (embora não triunfando nessa categoria). Podemos apostar que Dunkirk irá surgir, pelo menos, com a mesma evidência.