Nome fundamental na história do cinema europeu das últimas seis décadas, a actriz francesa Jeanne Moreau foi encontrada morta em sua casa, no dia 31 de Julho, em Paris — contava 89 anos.
Dizer que podemos ler e compreender a história do cinema moderno — mais exactamente, da modernidade no cinema — através de Moreau é uma espécie de axioma cinéfilo. O inventário do seu multifacetado talento apresenta-se absolutamente impressionante:
— das convulsões da Nova Vaga francesa, nomeadamente sob a direcção de Louis Malle em dois filmes de 1958, Fim de Semana no Ascensor e Os Amantes, até ao universo enigmaticamente simbólico de Manoel de Oliveira, em O Gebo e a Sombra (2012);
— da mágoa romântica de François Truffaut, em Jules e Jim (1962), mas também em A Noiva Estava de Luto (1968), até à suspensão trágica de François Ozon, em O Tempo que Resta (2005);
— do sarcasmo implacável de Diário de Uma Criada de Quarto (1964), sob o olhar de Luis Buñuel, até às convulsões emocionais de Rainer Werner Fassbinder no seu filme terminal, Querelle (1982).
Filmou ainda sob a direcção de cineastas como: Michelangelo Antonioni, em A Noite (1962), referência obrigatória da modernidade; Jacques Demy, no belíssimo A Grande Pecadora (1963), rodado em Nice; Orson Welles, por exemplo nesse telefilme tão esquecido que é História Imortal (1968); ou ainda Joseph Losey no prodigioso Mr. Klein (1976), com Alain Delon, sobre a França ocupada pelos nazis, e Elia Kazan no muito esquecido e admirável O Grande Magnate (1976), cometendo a proeza de adaptar o "inadaptável" The Last Tycoon, de F. Scott Fitzgerald.
A sua formação teatral — passou pela Comédie Française, período que considerou sempre essencial para o seu sentido de "disciplina" — conferiu-lhe disponibilidade para abraçar as mais diversas personagens, celebrando as suas diferenças, em vez de as submeter a uma "marca" ou "estilo" pessoal. Exemplo extremo da depuração da sua arte poderão ser os trabalhos ligados a Marguerite Duras, a começar pela adaptação de Moderato Cantabile (1960), com direcção de Peter Brook — valeu-lhe o prémio de interpretação feminina em Cannes. Com realização de Duras, surgiria em Nathalie Granger (1972); em Aquele Amor (2001), de Josée Dayan, segundo as memórias de Yann Andréa, interpretou a personagem da própria Duras.
Dizer que podemos ler e compreender a história do cinema moderno — mais exactamente, da modernidade no cinema — através de Moreau é uma espécie de axioma cinéfilo. O inventário do seu multifacetado talento apresenta-se absolutamente impressionante:
— das convulsões da Nova Vaga francesa, nomeadamente sob a direcção de Louis Malle em dois filmes de 1958, Fim de Semana no Ascensor e Os Amantes, até ao universo enigmaticamente simbólico de Manoel de Oliveira, em O Gebo e a Sombra (2012);
— da mágoa romântica de François Truffaut, em Jules e Jim (1962), mas também em A Noiva Estava de Luto (1968), até à suspensão trágica de François Ozon, em O Tempo que Resta (2005);
— do sarcasmo implacável de Diário de Uma Criada de Quarto (1964), sob o olhar de Luis Buñuel, até às convulsões emocionais de Rainer Werner Fassbinder no seu filme terminal, Querelle (1982).
Filmou ainda sob a direcção de cineastas como: Michelangelo Antonioni, em A Noite (1962), referência obrigatória da modernidade; Jacques Demy, no belíssimo A Grande Pecadora (1963), rodado em Nice; Orson Welles, por exemplo nesse telefilme tão esquecido que é História Imortal (1968); ou ainda Joseph Losey no prodigioso Mr. Klein (1976), com Alain Delon, sobre a França ocupada pelos nazis, e Elia Kazan no muito esquecido e admirável O Grande Magnate (1976), cometendo a proeza de adaptar o "inadaptável" The Last Tycoon, de F. Scott Fitzgerald.
A sua formação teatral — passou pela Comédie Française, período que considerou sempre essencial para o seu sentido de "disciplina" — conferiu-lhe disponibilidade para abraçar as mais diversas personagens, celebrando as suas diferenças, em vez de as submeter a uma "marca" ou "estilo" pessoal. Exemplo extremo da depuração da sua arte poderão ser os trabalhos ligados a Marguerite Duras, a começar pela adaptação de Moderato Cantabile (1960), com direcção de Peter Brook — valeu-lhe o prémio de interpretação feminina em Cannes. Com realização de Duras, surgiria em Nathalie Granger (1972); em Aquele Amor (2001), de Josée Dayan, segundo as memórias de Yann Andréa, interpretou a personagem da própria Duras.
>>> Três videos, três momentos de Jeanne Moreau:
— fragmento de Fim de Semana no Ascensor, com música de Miles Davis;
— trailer de História Imortal [legendas em espanhol];
— apresentação e entrevista na televisão francesa sobre Aquele Amor.
>>> Obituário no jornal Le Monde.