De 20 de Julho a 16 de Agosto, o Nimas (Lisboa) apresenta um conjunto de filmes que, de uma maneira ou de outra, marcaram o último ano cinematográfico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 Julho), com o título 'Elogio da pluralidade'.
Em finais de 2012, a reposição de Vertigo (1958), de Alfred Hitchcock, em cópia digital restaurada, foi um pequeno grande acontecimento no mercado português. Com distribuição da Midas Filmes, a obra-prima do mestre do suspense veio relançar uma hipótese comercial cuja pertinência não desapareceu. A saber: manter uma relação activa com as memórias cinéfilas, enriquecendo a oferta e diversificando a procura.
De então para cá, felizmente, essa e outras empresas têm sabido explorar as potencialidades de tal oferta. Todos os espectadores, a começar pelos mais jovens, têm tido oportunidade de conhecer grandes clássicos mais ou menos “esquecidos”, contrariando o lugar-comum segundo o qual todos os filmes “antigos” são meras curiosidades de museu, irremediavelmente datadas e pitorescas. Por vezes, redescobrindo preciosas raridades. A Alambique Filmes, por exemplo, através da marca Cinema Bold, anuncia para Agosto Stop Making Sense (1984), de Jonathan Demme, com os Talking Heads, um dos marcos da história dos “filmes-concerto”.
Neste contexto, a iniciativa da Medeia Filmes, sob a designação feliz de “Um Ano de Cinema(s)”, vem mostrar e demonstrar que a paisagem cinematográfica está longe de se poder reduzir aos filmes que têm anúncios nos canais de televisão ou conseguem encher de cartazes as nossas ruas e estações de metro. Não que os filmes com grandes meios sejam suspeitos do que quer que seja (a demonização automática da criatividade de Hollywood, mesmo com todo o seu poder ideológico, continua a ser apenas um preconceito chique). Acontece que qualquer relação cultural e comercial com o cinema passa pelo reconhecimento da sua pluralidade artística — por uma vez, importa lembrar que alguns críticos nunca desistiram dessa ideia.