10 de Julho de 2017. Num tempo jornalisticamente viciado na rotina das efemérides, eis a efeméride: completa-se um ano sobre o jogo Portugal-França, jogo que valeu à selecção portuguesa o título de campeã europeia de futebol.
Efeméride?
Vivemos, de facto, em tempos de esquizofrenia televisiva.
Depois da dramatização delirante do fogo de Pedrógão e do assalto ao paiol de Tancos, somos relançados na celebração, igualmente delirante, de um evento futebolístico.
Repare-se: ninguém pretende banalizar a dimensão trágica do que se viveu em Pedrógão, nem a gravidade militar e política do que aconteceu em Tancos.
Em boa verdade, o que está em causa é, precisamente, a possibilidade televisiva dessa banalização. Por uma vez, valeria a pena tentarmos pensar — pensar o que somos e como somos — para além das dicotomias fáceis e redutoras, mais ou menos nacionalistas.
Será que o espaço televisivo apenas conhece um regime emocional? A saber: a criação ininterrupta de altos e baixos que, numa verdadeira roleta russa audiovisual, nos condenam a imaginar a nossa existência como uma estafada telenovela.
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Fica, aliás, uma interrogação perturbante: depois dos acontecimentos que dilaceraram (e dilaceram) o país, que luto nos querem fazer viver quando, entre a tragédia e a festa, já não há diferença mediática de linguagem?