Duas vezes nomeado para os Oscars, o americano Edward Lachman é um dos grandes diretores de fotografia do cinema contemporâneo. Esteve no FEST, em Espinho, e falou sobre o confronto actual entre película e digital — realizada nesse contexto, esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (3 Julho), com o título '"O digital não deve ser o único meio de contar histórias em cinema"'.
* Nasceu em Morristown, New Jersey, a 31 de Março de 1948.
> Nomeado para o Oscar de fotografia com Longe do Paraíso (2002) e Carol (2015), ambos de Todd Haynes.
> Fotografou As Virgens Suicidas (Sofia Coppola, 1999) e Erin Brockovich (Steven Soderbergh, 2000).
> Realizou e fotografou Songs for Drella (1990), sobre o álbum tributo a Andy Warhol, por Lou Reed e John Cale.
> Co-realizou, com Larry Frank, o filme Ken Park (2002).
> Prémio de carreira da American Society of Cinematographers, em 2017.
Através da sua experiência, que diferenças tem encontrado entre cinema americano e cinema europeu?
A minha experiência está mais ligada à produção independente que, na verdade, na América tem muitas semelhanças com a produção independente na Europa. São filmes em que tudo passa pelas personagens, além de, claro, serem feitos com pequenos orçamentos. Isto por oposição aos filmes de puro entretenimento, mais parecidos com video-jogos. Claro que essa é também uma vertente do cinema, só não é a que mais me interessa — não quero saber se vou ter muitas luzes para iluminar, interessa-me o olhar de um cineasta que procura a sua linguagem visual.
De onde vem essa postura?
Quando andava a estudar, os filmes que mais me interessavam eram, de facto, os europeus que reflectiam uma visão muito pessoal sobre o modo de contar uma história. A minha formação está ligada à Nova Vaga francesa, aos italianos que vieram depois do neo-realismo, a alemães como Fassbinder, Herzog ou Wenders.
Nesse processo pessoal, qual a importância dos trabalhos publicitários?
Os trabalhos para publicidade permitiram-me escolher, isto é, poder vir à Europa fazer filmes com meios mais limitados. Em qualquer caso, muitas vezes, há também nos filmes publicitários uma dimensão experimental — para um director de fotografia, é uma via muito interessante que vale a pena explorar.
Considera que o seu trabalho como director de fotografia está, de alguma maneira, próximo da pintura?
Gosto de pensar que sim. Ao trabalhar com um determinado realizador, é hábito procurar as referências culturais que nos possam ajudar a encontrar a linguagem do filme para representar uma determinada época, aquele momento preciso — fotógrafos, pintores... podem ser músicos ou escritores.