terça-feira, junho 20, 2017

Nicole Kidman, 50 anos

Grace de Mónaco (2014)
No filme Grace de Mónaco (2014), de Olivier Dahan, a memória de Grace Kelly é sujeita a uma evocação sóbria, mas convencional, das tensões entre o recato da intimidade e as obrigações da figura pública. Sendo tal abordagem em parte fundamentada num efeito de "duplicação" figurativa da própria personagem, por que é que, apesar de tudo, nos recordamos das singularidades do olhar e da pose, numa palavra, do trabalho de Nicole Kidman?
A resposta é simples: é isso que define uma actriz (ou um actor). A saber: a capacidade de aceitar as exigências, desde logo de natureza física, da personagem, sem alienar a irredutibilidade do seu labor de composição. Encontramos na sua carreira os mais variados testemunhos dessa dialéctica, por exemplo nos infinitos segredos de Retrato de uma Senhora (1996), de Jane Campion, na solidão primordial de Dogville (2003), de Lars von Trier, ou na pulsão trágica de O Outro Lado do Coração (2010) — no original Rabbit Hole, realização absolutamente extraordinária de John Cameron Mitchell, integra a lamentável lista dos grandes filmes nunca estreados nas salas portuguesas, embora tenha sido lançado em DVD com o título O Outro Lado do Coração [trailer].


Estamos a falar, afinal, da actriz que, em De Olhos Bem Fechados (1999), a obra-prima terminal de Stanley Kubrick, enfrentou o desafio supremo de se diluir nas dores de uma personagem capaz de conjugar o feminino num tempo sagrado em que transparência e negrume se confundem, contradizem e completam. E se é verdade que a sua trajectória envolve alguns percalços pouco motivadores — Horizonte Longínquo (1992), de Ron Howard... quem se lembra do embaraço da sua passagem em Cannes? —, não é menos verdade que ela persiste como imagem da própria ideia de cinema, radiosa e radical.
Nicole Kidman nasceu em Honolulu, Havaí, EUA, no dia 20 de Junho de 1967 — faz hoje 50 anos.
De Olhos Bem Fechados (1999)
>>> Site oficial de Nicole Kidman.