domingo, junho 04, 2017

Mizoguchi, feminista

Prosseguem as reposições de filmes de Kenji Mizoguchi, sendo Festa em Gion um dos seus títulos mais exemplares na abordagem do universo feminino — este nota foi publicada no Diário de Notícias (1 Junho).

Mais do que nunca, importa superar a imagem de um Kenji Mizoguchi (1898-1956) encerrado numa contemplação mais ou menos épica do Japão “tradicional”. Para além dos seus filmes “históricos” (e a designação carece, desde logo, de discussão), ele foi também um autor empenhado em analisar as convulsões dos tempos posteriores à Segunda Guerra Mundial, expondo, precisamente, as tensões entre passado e presente.
Centrado numa jovem que quer ser integrada, como aprendiz, numa casa de gueixas, este Festa em Gion, datado de 1953, é um exemplo modelar da sua visão de um universo submetido aos valores masculinos e machistas. Por mais bizarra que a classificação possa parecer, há, de facto, uma dimensão feminista no cinema de Mizoguchi, mais subtil e contundente que muitos discursos panfletários do nosso presente.