Se é verdade que Steven Spielberg é um dos autores contemporâneos que mais e melhor soube integrar a noção clássica segundo a qual o cinema existe, antes do mais, como uma arte da
amostragem, então o seu trabalho revela-se de modo especialmente sensível na verdade austera do fotograma. No dia em que se assinalam 35 anos sobre a data de lançamento de
E.T. - O Extra-Terrestre (1982), aqui ficam três exemplos eloquentes.
|
* DEE WALLACE — a sua filmografia já tem mais de duas centenas de títulos mas, em boa verdade, é de E.T. que automaticamente nos lembramos. Por uma razão primordial: no universo de Spielberg, a figura da mãe emerge sempre sob o signo de uma tocante luminosidade — o seu olhar reflecte a obstinada crença na possibilidade de sobreviver à desordem do mundo. |
|
* HENRY THOMAS, DREW BARRYMORE e ROBERT MacNAUGHTON — olhar o outro, o radicalmente outro, não como um excluído do nosso mundo, antes como algo ou alguém que ainda pertence à enigmática pluralidade do humano; para Spielberg, a infância é sempre a reserva moral desse olhar — a inocência que a move corresponde, em última instância, a um modelo de visão política. |
|
* HENRY THOMAS — o corpo do extra-terrestre, concebido pelo italiano Carlo Rambaldi (1925-2012), afigura-se, de uma só vez, estranho e cúmplice, duplicando o desejo de descoberta de Elliott (Thomas), seu avatar terrestre: a luz que emana do seu dedo é um suplemento mágico — e a luz, em Spielberg, é sempre aquilo que importa seguir. |