sábado, maio 27, 2017

Na morte de José Manuel Castello Lopes

Gérard Castello Lopes e José Manuel Castello Lopes
[FOTO: Cinemateca]
Com a morte de José Manuel Castello Lopes, no dia 25 de maio, aos 86 anos de idade, desapareceu uma figura central na história da distribuição/exibição cinematográfica em Portugal — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Maio), com o título 'Os caminhos da cinefilia'.

Conheci José Manuel Castello Lopes em 1972, quando a sua distribuidora inaugurou o cinema Londres com Morrer de Amar, um drama de André Cayatte protagonizado por Annie Girardot. Na altura, Filmes Castello Lopes era a marca dominante da distribuição/exibição, não só pela sua dimensão nacional, mas também pela vitalidade do seu catálogo.
Desde clássicos como E Tudo o Vento Levou e O Feiticeiro de Oz (ambos de 1939), até algumas das grandes referências das “novas vagas”, incluindo O Acossado (1959), de Jean-Luc Godard, e Blow Up (1966), de Michelangelo Antonioni, a empresa dispunha de um catálogo de enorme diversidade. Isto para além de nele se incluírem alguns dos fenómenos mais espectaculares da década de 60, como Cleópatra (1963) ou Música no Coração (1966). Quando se dá a explosão dos blockbusters americanos, a sua posição seria reforçada pelo facto de, em 1977, como detentora dos direitos dos filmes da 20th Century Fox, a Castello Lopes distribuir A Guerra das Estrelas (numa altura em que o marketing ainda não tinha imposto a “obrigação” de apenas usar a expressão Star Wars).
Com o seu irmão, o admirável fotógrafo Gérard Castello Lopes (1925-2011), José Manuel Castello Lopes conduziu, assim, os destinos de uma empresa ligada ao conhecimento cinematográfico e à formação cinéfila de várias gerações de espectadores. Dele não posso fazer qualquer retrato próximo, muito menos íntimo, mas permito-me recordá-lo como um genuíno conhecedor de cinema e também um sarcástico provocador dos críticos que “destruíam” os seus filmes... O humor com que o dizia, olhos nos olhos do seu interlocutor, é uma memória saborosa que vale a pena conservar, lembrando que o trabalho para dar a ver a pluralidade interna do cinema é sempre um valor insubstituível.