sexta-feira, fevereiro 03, 2017

James McAvoy x 23

M. Night Shyamalan está de volta e em grande forma — esta nota sobre Fragmentado foi publicada no Diário de Notícias (2 Fevereiro).

Digamos que Fragmentado [Split] nos coloca algures num cruzamento de Cat People (1942) com O Silêncio dos Inocentes (1991)... Mas importa lembrar Alfred Hitchcock: M. Night Shyamalan, autor de O Sexto Sentido (1999), é um dos seus mais genuínos herdeiros. Não o copia, antes retoma uma fundamental asserção do mestre do suspense: o cinema não imita a naturalidade da vida, antes expõe os fantasmas que a desviam de qualquer transparência redentora.
Este seu novo filme poderá ser descrito como um desvio irónico de Psico (1960): aí, Hitchcock filmou Anthony Perkins como um ser fragmentado em duas personagens; agora, James McAvoy (notável!) vive assombrado por 23 identidades que vivem dentro de si. A ironia que o dispositivo envolve desemboca numa fábula perturbante sobre a pluralidade interior, porventura indecifrável, do factor humano.