segunda-feira, janeiro 02, 2017

2016, Figura do Ano [internacional]
— BEYONCÉ

beyonce.com

N. G.: Uma carreira não de vislumbra ao cabo de um ou dois discos, por gigantesca que possa ser a expressão global que eventualmente tenham conquistado. E se por vezes há uma ânsia de encontrar "novos" ou "novas" qualquer coisa ao primeiro sinal de um sucesso maior, na verdade não há melhor sugestão senão a de conceder ao tempo... tempo. Ou seja, numa altura em que os consumos culturais (muito por consequência das vivências online) pulverizaram a velha ideia do blockbuster e tantos mega-fenómenos o são afinal coisa de uma época ou duas, às quais se sucede o silêncio (por vezes sob abrupta saída de cena), o tom prematuro com que se elegem novos ícones tem acabado, tantas vezes, em histórias afinal bem diferentes. Beyoncé é aqui um dos raros casos diferentes. E é talvez a única voz da sua geração que, disco após disco, digressão após digressão, conseguiu definir um estatuto global verdadeiramente perene. Sustentado, como se diz em discurso do "economês" político do nosso tempo. A sua é uma obra que tem sabido escutar pistas na música capazes de definirem uma linha central de acção embora aberta a outras ideias, sugestões, colaborações. E junta desde o início uma relação igualmente atenta e consistente com o trabalho no plano das imagens. Uma artista completa, sem dúvida. E que teve em Lemonade, de 2016, um exemplo evidente de uma visão que está longe de esgotada. 

J. L.: Vivemos no mundo global das "redes" e "plataformas", de tal modo que, não poucas vezes, passámos a confundir a mera proliferação de links em que nos movemos com a definição da nossa identidade (individual ou colectiva). Como David Bowie ou Madonna, Beyoncé é uma artista consciente desse labirinto criativo e informativo, tendo lançado o seu Lemonade como um objecto fascinantemente plural: um álbum que é também um video-álbum, uma celebração musical que se confunde com uma cerimónia política. Daqui a muitas décadas, quando se esbaterem as paixões mais aguerridas, e também mais voláteis, será definido como um símbolo exemplar da era Obama.