Na sua contraditória fixidez, a intensidade do fotograma está muitas vezes ligada à especificidade do movimento (da câmara). Assim, neste caso, por exemplo: as palavras do narrador António (Miguel Nunes) — desde logo identificadas no título do filme: Cartas da Guerra — surgem através da voz de sua mulher Maria José (Margarida Vila-Nova), tudo integrado numa "descrição" visual que se apresenta neste calculado desequilíbrio. O filme faz com que o protagonista esteja constantemente a ausentar-se do centro da imagem, por vezes, como aqui acontece, coabitando com uma profundidade de campo que, paradoxalmente, amplia a sensação de claustrofobia. Dito de outro modo: para filmar memórias da Guerra Colonial (a nossa Guerra Colonial), o realizador Ivo Ferreira mostrou-nos que importa resistir à formatação "informativa" do território televisivo, reinventando as coordenadas do espaço e repensando o labirinto do tempo.