Não tinham avisado ninguém, mas quando pisaram o palco instalado no meio do relvado do estádio de Candlestick Park, em São Francisco (Califórnia, EUA), a 29 de agosto de 1966, os Beatles sabiam que aquele era um lugar onde não queriam regressar. Os tempos estavam a mudar. E tanto o seu último álbum – Revolver, editado semanas antes – como o também recente Pet Sounds dos Beach Boys mostravam que o estúdio era agora um espaço com novas possibilidades a explorar para os criadores de música. E, sem vontade em gastar tanto tempo na estrada a repetir canções e cumprir rotinas promocionais, era no estúdio que queriam concentrar as atenções. Nos novos discos, nos novos desafios… Assim sendo, aquele seria um adeus às plateias.
Esse fim de uma era foi o começo de uma ideia para que o cinema regressasse ao universo dos Beatles. E depois de uma consulta exaustiva aos arquivos conhecidos e de pedidos para que particulares lhe mostrassem o que para todos nós era até aqui ainda desconhecido, Ron Howard criou o incrível Eight Days A Week, uma viagem através da etapa de vida dos Beatles na qual o palco era a sua casa. É um relato naturalmente pensado para ser contado no tempo e no espaço habituais para uma ida à sala de cinema. E tem em si as personagens, as imagens, as surpresas, os momentos de glória e também os de drama que uma trama ao serviço de uma narrativa cinematográfica pode explorar.
E agora?
E agora chega a hora de levar a experiência para casa. E se a possibilidade de ver e rever, de parar e puxar atrás, é uma das realidades do visionamento caseiro, já a capacidade de juntar algo mais ao filme é também outro argumento que pode valorizar, depois de visto o filme na sala escura, uma nova etapa do nosso relacionamento com a obra, agora em casa…
E o disco de extras justifica esta ideia. Há sequências de imagens montadas – criadas durante as mesmas entrevistas que geraram os planos usados no filme – que nos permitem olhares complementares. E ali tanto se fala da história criativa da autoria das canções, como se observa com maior detalhe a génese da banda. Há ainda um lote com uma série de atuações ao vivo de canções que podemos ver na íntegra. E também depoimentos extra entre os quais aprofundamos descobertas feitas em Eight Days a Week… Como nas memórias das passagens pela Austrália e Japão (aqui com um ponto de vista mais vincado sob o mapa político que então acolheu a chegada dos fab four) e as palavras de Ronnie Spector, que recorda como, a pedido dos Beatles, ela os foi “salvar” do cerco das fãs e os levou, sem que ninguém desse por isso, a um diner no Harlem, onde comeram sem que ninguém os incomodasse, vivendo momentos quase incógnitos quando eram as estrelas de que mais se falava naquele momento em Nova Iorque.
Este disco extra só por si já justifica a edição em DVD e Blu-Ray… É um pouco como o nono dia, da semana de oito, que Ron Howard tão bem retratou.