sábado, dezembro 03, 2016

O quadro de Nuno Espírito Santo

FOTO: Fábio Poço / DN
A. Há qualquer coisa de comovente vulnerabilidade na postura mediática do treinador do F. C. Porto. Por duas vezes, primeiro na sequência da vitória sobre o Arouca, depois antecipando o jogo com o Sp. Braga, Nuno Espírito Santo achou por bem recorrer a um já célebre quadro para explicar os seus conceitos de jogo. Da última vez, começou mesmo por dizer: "Eu sei que isto vai ser motivo de brincadeira, crítica e análise..."

B. Não tenhamos dúvidas que, como Nuno Espírito Santo refere, se trata, para ele, de uma "coisa séria". Mais do que isso: que ele o faz por cristalina convicção. Acontece que as leis figurativas do ecrã televisivo nem sempre são muito simpáticas com as convicções... O que desconcerta é o facto de ele não se aperceber que está a entrar em terreno mediaticamente pantanoso — entenda-se: automaticamente sujeito a um processo de caricatura televisiva.

C. Porquê? Desde logo porque Nuno Espírito Santo não preparou aquilo que faz no seu quadro: falta aos seus gatafunhos o mais básico valor da transparência informativa. Mas também porque o espaço televisivo há muito formatou as intervenções a que atribuiu valor professoral, a começar pelos discursos dos comentadores do futebol. Podem esses comentadores gastar horas infinitas a insultarem-se de modo absolutamente degradante — os sistemas de linguagem televisiva não reagem, não interrogam, não se questionam sobre a pertinência social e ética daquilo que transmitem. Pelo contrário, um treinador de futebol a rabiscar um quadro está condenado a ser, malgré lui, um incauto "apanhado".