* Como se costuma dizer, a notícia é o acontecimento, não o jornalista.
* Este é um dos casos em que, desgraçadamente, o jornalista se transforma em notícia.
* A saber: na ONU, Marcelo Rebelo de Sousa foi entrevistado em directo por Martin Weill, repórter do Canal Plus (França) que terminou a breve conversa perguntando-lhe a que delegação pertencia e qual o seu cargo [SIC Notícias].
* Importa reconhecer a saudável serenidade com que o Presidente da República Portuguesa lidou com a lamentável situação [leia-se a magnífica crónica de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias].
* Fica, em qualquer caso, uma lição pedagógica cujo incómodo não pode ser iludido. Com duas drásticas alíneas:
1. O espaço televisivo tende a promover "crianças" que não foram minimamente educadas para pensar a responsabilidade do que estão a fazer;
2. Muitas vezes, os directos deixaram de ser formas específicas de investigação ou conhecimento, para existirem como meros momentos de "agitação" mediática.
* Provavelmente, na cabeça de Martin Weill, tudo não passou de um divertimento, ligeiramente incómodo, mas sem importância — afinal de contas, se observarmos o seu Twitter, não é muito diferente das banalidades discursivas com que outros cidadãos gostam de expor publicamente as suas férias ou os encontros com os amigos... Para ele, e outros "jovens" como ele, ser jornalista é uma espécie de interminável viagem de férias pelos exotismos do planeta.
* Ainda mais chocante do que tudo isso é o coro de diversão (?) que rapidamente se instalou no estúdio do Canal Plus [video]— o locutor a brincar com a situação e o público informe a aplaudir! Na prática, vivemos sob a ditadura dos "apanhados": neste mundo fátuo, ser cidadão é participar numa exuberante cerimónia de esvaziamento de qualquer forma de responsabilização.