A notícia sobre a pneumonia de Hillary Clinton suscitou algum delírio "jornalístico" que, pedagogicamente, foi desmontado por Christiane Amanpour — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (16 Setembro), com o título 'Pneumonia e política'.
Felizmente, ainda há quem resista a encarar a tarefa de informar como uma banal invenção de pontos de agitação, intensos e efémeros, apenas para rapidamente passar a outro “divertimento”. Aconteceu, por estes dias, no espaço televisivo americano. Hillary Clinton sentiu-se mal no domingo, numa cerimónia dedicada ao 15º aniversário do 11 de Setembro, tendo sido retirada numa carrinha (um vídeo breve mostrava-a, de costas, a cambalear). A sua candidatura rapidamente esclareceu que, de facto, dois dias antes, lhe tinha sido diagnosticada uma pneumonia, mas tanto bastou para que os mais preocupados com a saúde “social” (e as suas redes), gritassem “escândalo”: como era possível que alguém que pode vir a presidir aos EUA tenha “escondido” o seu boletim clínico?
Numa peça exemplar, de pouco mais de 2 minutos, Christiane Amanpour (CNN) veio comentar o ocorrido com salutar humor, evocando também, em tom bastante mais sério, os problemas de saúde que afectaram alguns presidentes. Perguntava ela, por exemplo, se o facto de John F. Kennedy ter sofrido da doença de Addison (mau funcionamento das glândulas supra-renais), aliás sempre ocultado pelos meios de informação, o impediu de salvar o mundo do apocalipse nuclear, durante a crise dos mísseis de Cuba. Lembrando também a indiferença de alguns jornalistas perante a não revelação de documentos dos impostos de Donald Trump, Amanpour deixou mesmo uma pergunta tão sarcástica quanto pedagógica: “Será que uma rapariga já não pode ter um dia mau?” [video aqui em baixo].
E evitemos a estupidez do cinismo. Mesmo que Amanpour possa simpatizar com a candidatura de Clinton (o que, além do mais, será perfeitamente legítimo), é a violência simbólica do outro lado que importa discutir. Desde quando uma pneumonia que começou por ser intuída através do “apanhado” de uma câmara passa a ser um anátema político?